segunda-feira, outubro 02, 2006
A interminável questão da violência religiosa
Apesar da avalanche de artigos de opinião que li nos últimos dias sobre o tema da violência associada à razão e à fé ― não há dúvidas que Bento XVI marcou pontos, ao pôr a humanidade inteira a reflectir sobre o assunto ― já tinha decidido que não escreveria aqui a esse respeito. Um blog é demasiado pequeno para tamanha polémica. Mas, como o JR me lançou o repto, vou tentar resumir os meus argumentos, na esperança que os nossos leitores me consigam ler até ao fim.Começo por ressalvar que não pretendo fazer nem o ataque nem a apologia de nenhuma religião específica, nem acho que seja possível justificar qualquer tipo de violência com base em fundamentos religiosos. Estou plenamente convencido que, por definição, nenhuma religião é violenta. O homem é que é violento. E basta existir um só extremista violento por cada dez mil fiéis pacíficos para que seja possível formar um exército com dezenas de milhares de fanáticos.
O problema da grande maioria dos países muçulmanos, não é religioso: é político. Enquanto nesses países não existirem leis que salvaguardem o respeito pelos indivíduos, nem instituições legítimas que permitam a alternância e a resolução negociada dos conflitos, não é possível abordar os problemas, por mais simples ou ridículos que sejam, sem recorrer à violência.
O único antídoto contra a violência é a democracia. Só que, não se pode esperar que os regimes despóticos e autoritários se transformem espontaneamente em democracias. Também não serve de nada, como nos confirma a História recente, impor a democracia pela força. Como se viu, isso acaba sempre por produzir ainda mais violência.
Tal não significa que o mundo democrático deva ficar de braços cruzados, à espera que esses regimes brutais e impopulares se decidam um dia a satisfazer as necessidades do povo. Vale a pena tentar ajudar, através do diálogo e, sobretudo, sem o espírito de cruzada que tem alastrado. Acima de tudo, há que ter em conta a realidade das sociedades árabes e dar-lhes todo o tempo que for preciso para que sejam eles próprios a evoluir para a democracia. A democracia precisa de tempo.
Se queremos ajudar o mundo árabe a impulsionar a democracia e a reduzir a violência temos de avançar juntamente com eles (1) na esfera económica ― mais justiça entre a demografia e os recursos petrolíferos ― (2) na esfera dos direitos humanos ― sobretudo no que diz respeito à igualdade da mulher ― e (3) na esfera política ― por exemplo, o conflito entre os israelitas e os palestinianos (e, indirectamente, os restantes países árabes): Há 60 anos que esse conflito representa um fardo para os povos, para a região e para o mundo.
A comunidade internacional tem que decidir que é chegada a altura de encontrar uma solução justa para a questão palestiniana e actuar em consequência. Os efeitos teriam certamente uma influência muito positiva na opinião pública árabe, dissipariam grande parte da hostilidade em relação ao Ocidente, obrigariam os países árabes a centrar-se na construção de sociedades e Estados democráticos, com menos miséria e frustração, e contribuiriam para isolar os fanáticos religiosos.
:: enviado por JAM :: 10/02/2006 11:23:00 da manhã :: início ::