BRITEIROS: O presidente e a primeira-dama foram ao cinema <$BlogRSDUrl$>








sexta-feira, setembro 29, 2006

O presidente e a primeira-dama foram ao cinema

Estava decidido: desta vez iriam ao cinema. Já estavam fartos de calcorrear as salas do novíssimo museu do Quai Branly. Era tempo de mudarem de programa e, por isso, desta vez, decidiram ir ao cinema. Calhava mesmo bem: tinham acabado de receber um convite para a antestreia do filme Indigènes. O presidente teria preferido ver Hard Candy, na sala mesmo ali ao lado, mas pensou duas vezes, não fosse a primeira-dama preparar-lhe mais uma das suas amargas vinganças.
Mal se sentaram, um “indígena” sorridente tomou assento à esquerda da primeira-dama. Falava-lhe num francês quase correcto. A última coisa que o presidente queria, era que a sua dama se sentisse assustada com essa brusca promiscuidade. Preparava-se mesmo para chamar os seguranças, mas desistiu de imediato, quando a viu a soltar gargalhadas ao ritmo das palermices do intruso. Há muito tempo que não a via tão contente.
A última vez que tinham ido ao cinema, era ele ainda Presidente da Câmara. Nessa altura, tinham assistido à projecção do filme Bernadette. Não tinha percebido lá muito bem o filme, mas, à vista do estado da primeira-dama durante as semanas que se seguiram, chegou à conclusão que foi seguramente um bom filme. Desde esse dia, embora também não percebesse bem o que isso significava, a sua encantadora esposa não deixava de evocar, antes de cada refeição, a “graça que tinham recebido”.
O filme preferido do presidente é Chuva de milhões. Sempre se reviu no papel desse herói, a quem foi prometida uma fortuna se conseguisse gastar 30 milhões de dólares em 30 dias, sem nada adquirir. O presidente, no seu âmago, sonha que é capaz de fazer muito melhor...
Algumas horas mais tarde, já no quarto, quando o presidente se preparava para desligar o candeeiro da mesa-de-cabeceira, a primeira-dama deu-lhe um murro no braço. “Jacques”, suspirou ela, “Temos que fazer alguma coisa por esses indígenas”.
― “Foi exactamente isso que tu me disseste quando vimos o Germinal”, respondeu-lhe o presidente, que tinha intenções de ressonar o mais depressa possível. “E tu lembras-te no que é que isso deu...”
― “Não. Desta vez, vamos mesmo fazer qualquer coisa. Acorda já o teu primeiro-ministro. É preciso que, amanhã cedinho, o povo saiba do que nós somos capazes!”.
E foi assim que todas as trombetas soaram ao raiar do dia. Daqui para o futuro, os “indígenas” serão Homens com “H” grande. Tudo isso, porque o presidente e a primeira-dama foram ao cinema.

:: enviado por JAM :: 9/29/2006 12:58:00 da tarde :: início ::
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