quarta-feira, março 21, 2007
Quatro anos a exportar o caos
No Irão, por exemplo, que se viu logicamente obrigado a apoiar os seus aliados xiitas, face às duas outras confissões, para evitar por um lado a contaminação dos curdos iranianos pelos curdos iraquianos e, por outro lado, para controlar as incursões profundas no seu território, levadas a cabo pelas tropas americanas desde 2003. Não nos devemos esquecer que, com a ocupação do Iraque, os americanos tornaram-se os vizinhos mais próximos do Irão. Não se pode compreender o auge de um regime duro e fanático, disposto a conseguir a autonomia em matéria nuclear e ameaçar atacar Israel, sem ter em conta esta nova situação geopolítica.
Mas os estragos não se ficam por aí. O atolamento dos americanos no Iraque serviu de apoio às tendências mais radicais em Israel que, contra a opinião pública mundial, sustentaram a intervenção militar judia no Sul do Líbano. Uma verdadeira catástrofe histórica e mais uma acha para a fogueira que tem vindo a destruir o movimento nacional laico palestiniano em proveito do islamismo que, na Palestina, é mais um produto da reacção perante a actual situação caótica do que o resultado de uma evolução identitária do povo palestiniano.
Para além disso, a situação iraquiana endureceu a resistência dos talibãs, no Afeganistão, provocando a debilidade do governo de Karzai e o seu provável desaparecimento assim que as tropas da NATO abandonarem o país. Também aí, o caos é total.
Por seu lado, a Rússia começa a reagir duramente face ao que considera uma ameaça à sua segurança estratégica. Vladimir Putin não se coibiu há dias, na Conferência Internacional sobre segurança, de tecer duras críticas aos Estados Unidos, acusando-os de estarem a “exportar a instabilidade para o mundo inteiro”, expressão que não era utilizada desde a Guerra do Vietname. O projecto americano de escudo anti-mísseis previsto para a Polónia e a República Checa aparece claramente como uma demonstração da vontade americana de paralisar as capacidades militares da Rússia e, desde logo, alterar o equilíbrio estratégico. As coisas tornam-se mais claras se juntarmos a isso as ameaças americanas nas fronteiras do Irão que configuram não só as condições para uma guerra regional, mas também uma ameaça à capacidade ofensiva da Rússia.
Alguns observadores americanos afirmam que Bush não tem nada a perder. Como não pode voltar a ser candidato às presidenciais, não tem qualquer impedimento em continuar a política radical dos ideólogos neocons, que sonham em impor pela força o império americano no Médio Oriente. Nessas condições, uma guerra é muito possível, mesmo que traga muito mais prejuízo para os Estados Unidos e, sobretudo, para Israel. Estamos já em pleno modelo de conflito de civilizações tal como o sonham os neoconservadores e os seus aliados no mundo. Sem dúvida, vai fracassar, mas é a base cultural da estratégia de exportação do caos, vigente hoje em dia nas relações internacionais.
Etiquetas: Estados Unidos, Geopolítica, Iraque
:: enviado por JAM :: 3/21/2007 09:45:00 da tarde ::
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