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sexta-feira, setembro 07, 2007

Avançada islamista em Marrocos

Tudo indica que hoje a Bolsa de Casablanca deveria desmoronar-se, o dirham afundar-se... mas tal não vai certamente acontecer. Muito embora as sondagens anunciem a vitória dos islamistas nas legislativas de hoje, fazendo com que o PJD — Partido da Justiça e do Desenvolvimento — venha a tornar-se a primeira formação do país, nenhum vento de pânico sopra sobre o reino alauita. Ninguém espera, nem uma guerra civil à argelina, nem um novo Afeganistão talibã, nem um Irão dos mollahs, pois os islamistas, mesmo tendo a maioria dos votos, serão facilmente absorvidos por um sistema político suficientemente forte para canalizar a vantagem por eles alcançada.
É ao Rei, apoiado pelas forças armadas, que a Constituição confere o essencial dos poderes. Nesta monarquia parlamentar, mas sobretudo autoritária, é o soberano que nomeia o primeiro ministro e a margem de manobra do Palácio é tanto maior que os 325 deputados são eleitos pela proporcional que, atendendo ao número de partidos em liça (trinta e três), induz uma tal dispersão de forças que só uma coligação de partidos poderá vir a formar governo.
Se Mohammed VI decidir escolher um primeiro-ministro oriundo do PJD, os islamistas terão que procurar aliados e entender-se com eles. Se, pelo contrário, o Rei escolher um tecnocrata, um socialista ou um nacionalista do Istiqlal, os islamistas não terão outro remédio senão ficar na oposição ou de ser apenas um partido subalterno. Não haverá portanto terreno para a instauração da charia, mas isso quer dizer o quê? Que não vai acontecer nada? Que, se eles ganharem, ficará tudo na mesma?
É claro que não. Esta avançada dos islamistas em Marrocos não fará mais do que confirmar a sua progressão no mundo arabo-muçulmano em geral. De Marrocos ao Paquistão, o islão político está em franca progressão porque se trata da única ideologia que se opõe, não só à corrupção dos regimes que estão no poder, mas também ao desgaste e ao falhanço das correntes nacionalistas procedentes da descolonização. Face ao atraso em relação ao Ocidente e à Ásia, o jovem e efervescente mundo árabe procura a sua renascença, numa sede de identidade que tão cedo não será saciada.
É um problema crucial deste início de século e, se as eleições de hoje em Marrocos são tão importantes é também porque elas poderão igualmente confirmar que o islamismo é solúvel na democracia. Tal como os islamistas turcos, que tiveram que renunciar à violência para chegarem ao poder e se transformarem em governo — conservador e religioso, mas bom gestor e respeitador do sufrágio universal — o PJD marroquino teve que moderar-se bastante para conquistar a confiança do eleitorado.
Compreendeu que Marrocos não deseja nem vestir o véu, nem isolar-se do mundo, nem privar-se do turismo, que é a sua principal riqueza. Quer fiquem no governo, quer na antecâmara do poder, poderão moderar-se ainda mais e é esse o grande desafio da monarquia marroquina.

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:: enviado por JAM :: 9/07/2007 12:03:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
  • É porque a Terra é redonda e se move que a violência se acalma e foge ao seu próprio ridículo, ainda que numa fuga conveniente.

    O Vulcão arrefece.

    Abraço

    De Blogger joshua, em setembro 08, 2007 11:55 da manhã  
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