domingo, dezembro 30, 2007
A frase do ano
Os lapsos costumam ocorrer assim. De improviso e sem que necessariamente se tenha consciência do dito. De repente, sai-nos uma palavra, ou um gesto, que se enche de sentido. Quando o rei de Espanha a lançou ao presidente Chávez, saiu da sua alma calar a quem não se cala, a um presidente que fala e fala, sem parar. Espontâneo corte público ao delírio excessivo da verbosidade.
Mas a frase, ao dar as várias voltas ao mundo, pelos meios electrónicos da rede mundial, perdeu a sua ingenuidade inicial. E desdobrou-se numa multitude de valores dicotómicos que continuam a ressoar na Web: históricos: colonizador/colonizado; raciais: europeu/mestiço; ideológicos: direita/esquerda; categoriais: rei/plebeu; rituais: diplomacia oca/ planetariedade infantil; económicos: investimento especulativo estrangeiro/empresas locais...
É que “Por qué no te callas?” foi proferido no âmbito duma cimeira subordinada ao tema da coesão social, que é outra maneira de chamar pobreza à pobreza. Em suma, uma oportunidade sublime para corroborar que os ricos dos países pobres estão cada vez mais perto dos ricos dos países ricos e cada vez mais longe dos pobres dos seus próprios países. E que estes, por sua vez, formam uma progressiva massa de excluídos que vai navegando entre a atomização social e o refúgio nas tradições locais, étnicas ou religiosas. Ou seja, um retrocesso de séculos.
:: enviado por JAM :: 12/30/2007 10:54:00 da manhã ::
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