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domingo, novembro 21, 2004

Em perspectiva

A Rua da Judiaria é um blog inteligente que tem o louvor de nos dar a conhecer a riqueza e a sabedoria da cultura e civilização judaica, ao mesmo tempo que propaga os ideais da convivência pacífica entre israelitas e palestinianos. Perante a irreversibilidade do erro histórico que permitiu o “regresso” dos judeus a uma terra que nunca foi verdadeiramente administrada por judeus e donde estes tinham partido há mais de dois mil anos, a convivência pacífica, justa e igualitária entre israelitas e palestinianos é o mínimo que se poderá reivindicar para alcançar um processo de paz efectivo e duradouro, entre dois povos que tanto glorificam Deus e que nunca estiveram tão longe da Graça divina.

Faço parte dos muitos portugueses que visitam regularmente a Rua da Judiaria e esta semana surpreendeu-me a citação em perspectiva, pescada no site judaico brasileiro Pletz. A argumentação em questão tem algo de infantil mas, mesmo assim, vale a pena concentrarmo-nos nela, pois uma grande maioria daqueles que defendem a legitimidade da ocupação da Palestina, associando-a aos fundamentos da “Terra Prometida” por Deus ao povo judeu, usa normalmente argumentos deste tipo.

Em primeiro lugar, não está correcto comparar o mundo árabe ao mundo judeu: o mundo árabe corresponde a uma comunidade linguística enquanto que o mundo judeu é uma comunidade essencialmente religiosa. Para além disso, falar de “um mundo árabe unido” é falar de uma realidade que só existe na nossa imaginação. Por outro lado, se contrapusermos o mundo judeu ao mundo muçulmano, que é, esse sim, uma comunidade religiosa, então aí teremos que incluir também turcos, indonésios, indianos, persas, etc.

Defender que a Comunidade Internacional deve acarinhar o “frágil” e único país hebreu do planeta e que, para isso, é legitimo que o dote de “meios de defesa, recursos e financiamentos para a sua sobrevivência”, parece-me tão razoável como apoiar o fornecimento de armas e financiamentos ao País Basco, contra o “mundo cristão”, se por acaso os judeus tivessem decidido ser essa a Terra Prometida e aí tivessem instalado os seus colonatos.

Defender que a Comunidade Internacional deve “legitimar a continuidade e prosperidade” dos povos mais fracos, contra os mais fortes, mesmo que, neste caso, seja o mais “fraco” quem tem a bomba atómica e os bombardeiros F16 e é apoiado pelos Estados Unidos, é esquecer que, ao longo da História, a Comunidade Internacional deixou cair povos muito mais importantes, como os Incas e os Astecas, e não fez grande esforço para impedir a exterminação dos Apaches e dos Sioux, na América do Norte, dos budistas no Tibete e dos aborígenes na Austrália.

Por muito respeito que tenha pela religião judaica, defender a existência de um país só para judeus, ainda por cima instalado na terra por eles escolhida, parece-me tão legítimo como defender a existência de um país para os Siks ou para as Testemunhas de Jeová.

:: enviado por JAM :: 11/21/2004 01:19:00 da tarde :: início ::
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