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quarta-feira, dezembro 29, 2004

Auditoria Secreta

Top Secret

No passado dia 23 de Dezembro, a senhora Ministra da Educação desmentiu o senhor Ministro Morais Sarmento ao afirmar que "as conclusões do relatório da auditoria ao concurso de professores não podia ser tornado público por ter sido classificado como confidencial."

Ou seja, fica escondido para que ninguém possa saber, antes das eleições, em que medida e de que modo, as intervenções de pessoal político e da confiança política do PP e do PSD foram responsáveis pelo descalabro que se viveu no início deste ano lectivo. Perde-se aqui uma oportunidade de reflexão, ainda que não atempada, sobre um dos processos fulcrais para toda a organização escolar do nosso país.

É claro que quem pensar que tudo se resume a colocar atempadamente professores em escolas, como quem entrega um carrinho a cada varredor do lixo, engana-se. Como sempre, e como é hábito, nesta nossa maltratada terra, o carro à frente dos bois e as trancas depois de casa roubada são a prática mais comum numa administração educativa, cada vez mais perdida e mais afastada do real significado e relevância das suas missões.

Como calculámos em post anterior, o prejuízo para o país foi enorme e é imperativo que se conheçam os resultados da auditoria com que se calaram as vozes que protestavam.

Basta de parangonas nos jornais no início dos processos e nenhum prestar de contas no fim. Ao logo destes anos ouvimos de tudo, colocações abusivas, corrupção activa e passiva, infracções graves e subversão de procedimentos e vergonhosas sujeições de sindicatos aos seus "patrões" partidários.

A nossa juventude, as gerações vindouras e Portugal merecem mais.

Basta lembrar que os especialistas da Secretaria de Estado da Amnésia (administração) Educacional pouco têm feito para racionalizar e modernizar a gestão do pessoal docente. O concurso deveria ser o último degrau de uma longa escada organizacional. Mas também se deveria saber o que é uma escola, o que é uma instituição, que as instituições devem ter uma alma, tanta coisa antes do concursozinho...
Mas é aqui que entra a "amnésia", pois todos os anos o Ministério se interroga sobre as mesmas coisas. Como se chama? Há quantos anos trabalha para nós? É habilitado? Como? Quando nasceu? Que nota tem de curso? Onde quer trabalhar? Está doentinho e tem atestado? Quer ficar a trabalhar do outro lado da rua? Quer ser destacado? É professor deste ciclo mas está a trabalhar na Universidade? E quer manter os dois lugarzinhos? É professor, mas está num desses sindicatos com mais dirigentes que sindicalizados? É professor, mas está a trabalhar na Câmara, ou na Junta, ou no Instituto, ou é especial, ou está no projecto? De certeza que quer mesmo ser professor ou quer só dar umas horinhas de aulas? Concorre para vinte horas mas depois só dá dez? Quer as horas que sobram dos outros? Está disponível para trabalhar em Vinhais, num horário de 10 horas, que sobram do horário de 20 de alguém que recebe o salário inteiro, e ser remunerado com metade dum salário?

E como as perguntas são tantas e a memória tão fraca, todos os anos recomeça o interrogatório e tem início o mesmo calvário.

E mais não direi, pois é neste país de analfabetismos vários que mais e maiores certezas são propaladas sobre e educação.

Quem não sabe fazer que dê lugar a quem sabe ou a quem tenha a humildade para aprender...

:: enviado por RC :: 12/29/2004 10:10:00 da tarde :: início ::
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