quarta-feira, junho 01, 2005

Nem os franceses mereciam uma coisa assim

Chirac tinha anunciado as piores calamidades em caso de vitória do “Não”. Os franceses votaram “Não”. Chirac resolveu demonstrar a verdade das suas previsões catastróficas: despediu o primeiro-ministro (um senhor com um ar simpático que tinha a capacidade de destruir tudo em que tocava), substitui-o por Villepin e nomeia Sarkozy ministro do interior e numero dois.
Até aqui nada de especial. Em França, o primeiro-ministro é o fusível do presidente. Quando a tensão é demasiada, o fusível salta. Foi o que aconteceu. Só que ... Só que Villepin e Sarkozy odeiam-se publicamente. Alimentam os dois o desejo de ser Presidente no lugar do Presidente. Um quer mais “dinâmica na continuidade” o outro “rupturas”. Villepin é o bem falante, vaidoso, aristocrata e o porta-voz da oposição francesa aos EUA. Sarkozy é o populista, o liberal e o atlantista. Chirac gosta e confia em Villepin, não gosta e desconfia de Sarkozy. Para juntar mais uma peça ao quebra-cabeças, Sarkozy é também presidente do partido/coligação que é a principal base de apoio de Chirac. O ano passado Chirac deu-lhe a escolher entre o Ministério e a presidência do partido, por considerar os cargos incompatíveis. Passado um ano já pode acumular os dois.
Qual é, então, a lógica de tudo isto ? Mistério. Chirac decidiu fazer o que tão bem tem feito nos últimos dez anos: não decidir. A crise já está anunciada. Dou-lhes seis meses. Chirac vai provar, pelo absurdo, que tinha razão: o “Não” à Constituição vai ser catastrófico para a França e para o resto da Europa.
Coitados. Nem os franceses mereciam uma coisa assim.