BRITEIROS: “Seguir em frente” mas para onde? <$BlogRSDUrl$>








sábado, junho 18, 2005

“Seguir em frente” mas para onde?

Ontem, tive oportunidade de assistir às conferências de imprensa logo após o final do Conselho Europeu de Bruxelas. Numa, Jean-Claude Juncker e Durão Barroso, com cara de enterro, falavam de “profunda crise europeia”, de “egoísmos nacionais” e dos malvados dos ingleses que não querem nem Constituição nem pagar a “Europa”. Patético.
Na outra, Tony Blair explicava porque é que a anormalidade do “desconto” britânico está ligada à anormalidade da PAC e porque é que as duas têm que ser discutidas em simultâneo. Falava do significado dos “Nãos” e da mensagem que os cidadãos europeus estão a tentar transmitir para quem os queira ouvir: a UE não está no bom caminho. Blair explicou ainda que preferiu não fazer nenhum acordo que assinar um acordo que prolongasse, pelo menos até 2013, a filosofia orçamental actual. Afirmou-se disposto a abrir mão do desconto britânico em troca de uma redefinição das prioridades da UE. Segundo Blair, alguns dirigentes europeus (só faltou citar Chirac) afirmam que o futuro da Europa está na política agrícola. A Inglaterra pensa que o futuro da Europa está na tecnologia e nos serviços de grande valor acrescentado.
Estou em desacordo com muitas políticas de Blair mas, neste ponto, não posso estar mais de acordo.
No início dos anos 90, trabalhei, em Bruxelas, numa empresa europeia de informática. Tive oportunidade de assistir, em directo, à destruição da indústria informática europeia. Em nome da “livre concorrência” (unilateral, porque os americanos faziam exactamente o contrário) e do dinheiro que não se podia desviar da absorção das montanhas de manteiga e leite que ninguém queria comprar, cortaram-se todos os investimentos em investigação. De caminho asfixiou-se a industria informática europeia. Se nos recordarmos que uma boa parte da tecnologia informática que utilizamos hoje teve origem em empresas europeias ou em europeus que entretanto emigraram para os EUA e se compararmos com os benefícios económicos que daí tiramos, podemos ter uma ideia das consequências da política seguida pela UE nos anos 90. A Comissão Europeia dessa altura tinha um rosto: Jacques Delors. Hoje é um mito do europeísmo ...

Passados mais de 10 anos, há dirigentes europeus que continuam a ter uma visão do continente rural e bucólica. A pintura é bela mas irrealista. A Agricultura europeia é importante mas os subsídios para produzir coisa nenhuma fazem falta noutro lado e não será a Agricultura que vai empregar os 20 milhões de europeus que estão sem trabalho.
Todos têm o direito de ter uma visão para a “Europa” mas, então, que o afirmem claramente. Não façam “Agendas de Lisboa” a apostar na tecnologia ao mesmo tempo que “espetam” 42,6% do orçamento na PAC. Esta discussão é urgente e não pode esperar por 2013.
No fundo, o que Tony Blair tentava explicar é que quer “seguir em frente” desde que lhe expliquem para onde. Eu também.

:: enviado por U18 Team :: 6/18/2005 06:42:00 da tarde :: início ::
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