sexta-feira, julho 15, 2005
Império do Mal (2)
Diga o que disser o presidente dos Estados Unidos, o problema não é a existência de um imaginário “império do Mal” que deveremos vencer, mas sim a forma como as sociedades democráticas e abertas serão capazes de se defender dos integrismos criminosos de toda a espécie, sem renunciar ao seu sistema de vida, fundado sobre os valores da liberdade. Uma das primeiras condições para que a luta contra o terrorismo saia vitoriosa é precisamente o reconhecimento do seu carácter internacional, o que exige um reforço da autoridade das Nações Unidas.O erro terrível cometido por Washington e pelos seus amigos de Londres e de Madrid, quando se lançaram na aventura guerreira do Iraque – à margem da legalidade e sem o acordo dos seus principais aliados – só pode explicar-se por razões estranhas à luta contra o terrorismo. São, com certeza, razões ligadas a obscuras motivações de poder.
Desde que tomaram essa decisão, que custou a vida a dezenas de milhares de inocentes, assistimos ao enfraquecimento das organizações supranacionais, à instauração duma profunda divisão na Europa, ao clima de medo e desespero das populações do chamado “primeiro mundo” e ao reforço de toda uma série de correntes ultranacionalistas e fundamentalistas.
Não há dúvida que os culpados do terrorismo são exclusivamente os terroristas. Mas os líderes políticos mundiais têm a obrigação de tomar medidas apropriadas para garantir, ao mesmo tempo, a segurança e a liberdade dos cidadãos, sem acrescentar ainda mais horror ao horror já causado.
A mensagem de morte dos fanáticos de Bin Laden constitui um alerta para a necessidade de uma mudança profunda das nossas instituições. Essencialmente, é preciso lutar, no nosso mundo desenvolvido, contra as desigualdades económicas, eliminar o clima de divisão social, fomentar o multiculturalismo e impedir a difusão das manifestações de ódio e de egoísmo cego. A aliança entre as civilizações deverá passar pela cultura, pela educação, pela religião. O caminho para vencermos a ameaça cobarde do terror mundial passa pelo pleno reconhecimento da existência do outro e do seu direito à integração na nossa comunidade. Para que uma perspectiva dessa importância se torne realidade, a repressão do crime e dos terroristas é certamente necessária, mas o que é também necessário é restabelecer um clima de confiança entre os dirigentes do mundo democrático, coisa que, para já, prima pela ausência.
Leia também A luta do Bem contra o Mal.
:: enviado por JAM :: 7/15/2005 09:08:00 da manhã :: início ::