BRITEIROS: A cimeira de Tunes e o guardião da rede <$BlogRSDUrl$>








quarta-feira, novembro 16, 2005

A cimeira de Tunes e o guardião da rede


© desenho de Patrick Chappatte

Quando há três anos Taiwan recebeu o indicativo Internet “.tw”, o regime de Pequim, que está constantemente de atalaia sobre tudo o que se pareça, de longe ou de perto, com qualquer reconhecimento internacional da “província rebelde”, protestou imediatamente junto de Washington, que logo deitou as culpas para uma obscura ONG sediada na Califórnia, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers.
A ICANN é uma curiosa criação, única no seu género: a sua competência é mundial e as suas decisões impõem-se a todos os Estados, mas depende do direito e do ministro da Justiça californiano e o departamento do Comércio americano exerce um direito de veto sobre as suas decisões.
Historicamente, a Internet é uma criação americana. Foram as suas empresas, os seus investigadores, os seus engenheiros que a inventaram. Desde então, os Estados Unidos mantêm sobre ela todos os poderes. Podem, se quiserem, “desligar” um país. Se lhes passar pela cabeça, podem tornar inacessíveis todos os sites “.pt”. Para isso, bastar-lhes-ia agir sobre um único computador, o servidor-raiz mestre que, guardado num local secreto, comanda os outros doze servidores-raiz do planeta.
Por isso Washington recusa ceder a sua posição controladora à comunidade internacional, invocando a necessidade de excluir qualquer abuso por parte de Estados não democráticos. O que não deixa de ser pertinente, visto que a Cimeira que, a partir de hoje, vai “discutir” a questão tem lugar num país que interna os internautas.
É sabido que o desenvolvimento de um meio de comunicação e de expressão como a Internet constitui um poderoso aliado da democracia e uma séria ameaça para os regimes repressivos. Por isso, seria mais sensato confiar as chaves da Internet a um organismo internacional comummente aceite por todos. A menos que se pense que só os Estados Unidos poderão garantir a segurança do mundo virtual, tal como com o mundo real.

Leia também: Coutada privada.

Adenda:
Acaba de chegar a informação que o Secretário Geral de Repórteres sem Fronteiras, Robert Ménard, foi bloqueado dentro do avião Paris-Tunes e impedido de entrar na Tunísia, onde ia participar na Cimeira Mundial sobre a Sociedade de Informação.
Este triste acontecimento contrasta estranhamente com o discurso de ontem de Kofi Annan, por ocasião da abertura da Cimeira, ao declarar que “a sociedade de informação é impensável sem liberdade” e vem dar razão àqueles que criticam a escolha da Tunísia como país organizador desta segunda volta da Cimeira.

:: enviado por JAM :: 11/16/2005 09:38:00 da tarde :: início ::
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