quinta-feira, novembro 03, 2005
Regresso ao futuro
Há dias, João Salgueiro, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, declarou que a banca portuguesa tem procurado antecipar os desafios do futuro.Eu diria que isto é verdade e, por isso mesmo, parece-me que o futuro não será de “amanhãs que cantam” para a grande maioria de todos nós.
Podem-me falar de aspectos positivos, como, por exemplo, a plastificação do dinheiro (vulgo cartões Multibanco e cartões de crédito), que deu e continua a dar jeito a muita gente, a tal ponto que hoje já dificilmente passaríamos sem isso.
Mas eu estava a pensar na questão mais geral do que é e tem sido a “nossa” banca, não nas questões de pormenor.
Se não, vejamos:
Pouco antes do 25 de Abril, li num relatório e contas do BPSM, subscrita pelo sr. António Champallimaud (esse mesmo!), uma critica económico-financeira ao regime, à chamada “Primavera marcelista”, que, pelos vistos, também tolhia os movimentos ao capital financeiro. A banca vislumbrava já, num futuro muito próximo, uma janela de oportunidade…
O PREC nacionalizou os bancos, mas a nacionalização foi apenas uma chuvinha que os banqueiros tiveram de suportar; resguardaram-se e pronto.
Pouco a pouco reapareceram na ribalta e acabaram por dar a volta por cima, com indemnizações chorudas e tudo, e aí estavam eles de novo prontos para o negócio, em todas as vertentes deste.
Do ponto de vista das relações de trabalho foram os primeiros, e continuam na 1ª linha, a espremer os trabalhadores até ao tutano: trabalho extraordinário não pago, coacção psicológica, fixação de objectivos por cabeça, recurso a mão de obra barata e descartável (estagiários, contratados a prazo), contando, isso sim, com a colaboração dos sindicatos, que envelheceram e amareleceram (e dos trabalhadores que foram mantendo inalteradas as direcções destes, iludidos por mais 25 tostões ao fim do mês). Livraram-se também dos trabalhadores mais antigos (com mais vivência de lutas reivindicativas) através de pré-reformas.
Agora, através das famosas fugas de informação, viemos a saber que alguns dos bancos privados instalados neste país (não digo nacionais ou portugueses porque o capital não tem pátria) estão a ser objecto de uma investigação judicial desencadeada pela existência de indícios de fuga ao Fisco e de branqueamento de capitais.
Portanto, se é a banca a mostrar o caminho do futuro, parece que vamos ter (a maioria de nós, não os banqueiros) um futuro que será tudo menos radioso.
:: enviado por Manolo :: 11/03/2005 10:15:00 da tarde :: início ::