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sábado, fevereiro 04, 2006

Moral de uma história

O reputado pensador Vasco Pulido Valente, escreveu :

Por muito que nos custe e custe ao perigosíssimo Presidente Bush, sem os tiranos, que, para nosso bem e conveniência deles, conservam as massas muçulmanas numa relativa passividade, não escapávamos com certeza a um triste fim.

Essa peregrina ideia, para além de demolir radicalmente tudo o que de louvável poderia existir na cruzada exportadora de democracia para os países do Médio Oriente, intentada por Bush e pelos seus seguidores ocidentais (se não foi por isso, então porque é que para lá foram?...), dá-nos um excelente mote para algumas considerações sobre os porquês da ascensão vertiginosa dos ideais islamitas no mundo arabo-muçulmano.
O islamismo, ou seja o movimento político que visa substituir a lei dos homens pela de Deus (a charia), teve origem no Movimento dos Irmãos Muçulmanos, criado no Egipto, em 1928, por Hassan el-Benna, um professor beato, com o objectivo de combater a influência nefasta sobre a juventude do seu país dos costumes vindos de Inglaterra. Na sua origem, os ideais islamitas não tiveram grande aceitação e foram praticamente eliminados pelas ideologias mais fortes do século XX, como o nacionalismo laico ou o socialismo. O partido Baas, movimento da renascença árabe fundado durante a Segunda Guerra Mundial, que subiu mais tarde ao poder na Síria e no Iraque, é ao mesmo tempo nacionalista, laico e socialista. Tal como o nasserismo, que, no Egipto, decapitou sem piedade o Movimento dos Irmãos Muçulmanos.
Os governos saídos da descolonização mantiveram todos uma relação predadora no poder (os tiranos de VPV), o que atiçou a revolta e a repulsa das populações (as massas muçulmanas). Se os argelinos, na primeira vez que puderam exprimir-se livremente nas urnas (nas eleições municipais de 1990), votaram em massa na Frente Islâmica de Salvação (FIS), foi porque quiseram sancionar os que eles chamavam os “ladrões da FLN”. O Fatah de Arafat, reconhecidamente corrupto, sempre teve muitas dificuldades em redistribuir, à população palestiniana, o dinheiro enviado pelos países árabes e pela União Europeia. Basta olhar para as enormes limusinas, novinhas em folha, com que se ostenta por entre a degradação dos povoados em ruínas. Ao invés, os lideres do Hamas sempre viveram modestamente.
A força simplificadora do slogan dos Irmãos através do mundo muçulmano é: “O islão é a solução”. Quem poderia, no Cairo, em Gaza, em Bagdade ou em Argel, contrariar um tal slogan? Quem poderia preferir o governo dos homens ao de Deus? Não é verdade que o islão, religião em que a simplicidade faz a força, proíbe o roubo e apregoa que se dê esmola aos mais desfavorecidos? E os Irmãos, não deram eles sempre o exemplo? Em Gaza, no Cairo ou nos subúrbios do Sul de Beirute, onde o Estado não consegue fazer nada pelos mais pobres, são os islamitas que asseguram os serviços sociais.
Paralelamente, a imagem que dá, dele mesmo, o mundo ocidental às massas muçulmanas tem-se esbatido consideravelmente. Os islamitas podem assim facilmente ensinar aos seus correligionários que os ocidentais “já não acreditam em nada”, perdidos como estão no seu hiper consumismo. Que modelo moral poderão oferecer as sociedades europeias, que têm medo de fazer filhos e que abandonam os seus velhos nos lares de terceira idade?

:: enviado por JAM :: 2/04/2006 02:39:00 da tarde :: início ::
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