sexta-feira, março 10, 2006
Habemus Presidentam
Olhar para o mapa eleitoral no dia a seguir à eleição presidencial foi assim a modos como que olhar para o mapa da seca do ano passado: um concelho e duas ou três freguesias a vermelho, tudo o resto um bocado amarelado.
Sendo a Democracia o que é e podendo-se eleger terroristas, tiranetes, alucinados ou criminosos, é claro que, por maioria de razões, também se pode eleger um professor de Finanças Públicas que, não encaixando em nenhuma das definições referidas, tem as simpáticas qualidades de possuir uma extraordinária imagem sobre si próprio e de ser considerado, pelo povo que o elegeu, uma espécie de Messias. Tem toda a legitimidade e só prova que a Democracia é o pior de todos os regimes, excluindo todos os outros.
Ontem, o Professor teve o momento mais alto da sua vida: foi empossado.
À boa maneira portuguesa, começou tudo com uma jantarada, precedida por uma enorme “seca” a que soe chamar-se cumprimentos (Ah, e com uma medalha ao ex-presidente para o caso de nos termos esquecido que, entre pares, há que haver respeito e consideração). Houve ainda a interessante entrada triunfal no Palácio de Belém para mostrar que o clã familiar está unido e não vai deixar o Prof. sozinho no pesado cargo que, com relutância, aceitou (vi uma vez uma coisa parecida num país do terceiro-mundo, mas não tem nada que ver).
O resto foram discursos de circunstância, o mesmo diagnóstico sobre a situação do País que já ouvimos há 30 anos, o vazio de ideias e um primeiro-ministro que, incomodado por ter um Presidente “chato”, resolveu ser Presidente para poder ser primeiro-ministro sem os inconvenientes de ter que domesticar os selvagens de um partido político, ajudantes que não ajudam e alguém por cima a embirrar consigo.
Saí de Portugal no período áureo da governação de Cavaco Silva. E saí porque estava enojado de ouvir gestores públicos pedirem-me “comissões” para realizar negócios (em que até tinha a melhor proposta mas que perdia, sistematicamente, porque, trabalhava para uma multinacional em que a prática era interdita), estava cansado de dizer não a quem me convidava para dar cursos de formação fantasmas “da CEE”, estava farto de trabalhar na mesma empresa há 4 anos com recibos verdes, trabalhar 16 horas por dia e receber mal e estava enjoado com o clima de novo-riquismo e chico-esperteza em que uma boa parte dos meus compatriotas parecia sentirem-se bem. Saí de Portugal porque já não conseguia viver muito bem com isto tudo (e para ser honesto também porque tive uma boa oportunidade profissional). Para mim, foi o que me ficou do Cavaquismo. Isso, auto-estradas e uma quantidade absurda de dinheiro “europeu” que nem sequer sei muito bem para onde foi.
Se quisesse ser mauzinho diria que cada povo tem o presidente que merece. Como não sou, espero que, ao contrário do que mostra o mapa eleitoral, Portugal não se transforme de novo num enorme cavaquistão.
Sendo a Democracia o que é e podendo-se eleger terroristas, tiranetes, alucinados ou criminosos, é claro que, por maioria de razões, também se pode eleger um professor de Finanças Públicas que, não encaixando em nenhuma das definições referidas, tem as simpáticas qualidades de possuir uma extraordinária imagem sobre si próprio e de ser considerado, pelo povo que o elegeu, uma espécie de Messias. Tem toda a legitimidade e só prova que a Democracia é o pior de todos os regimes, excluindo todos os outros.
Ontem, o Professor teve o momento mais alto da sua vida: foi empossado.
À boa maneira portuguesa, começou tudo com uma jantarada, precedida por uma enorme “seca” a que soe chamar-se cumprimentos (Ah, e com uma medalha ao ex-presidente para o caso de nos termos esquecido que, entre pares, há que haver respeito e consideração). Houve ainda a interessante entrada triunfal no Palácio de Belém para mostrar que o clã familiar está unido e não vai deixar o Prof. sozinho no pesado cargo que, com relutância, aceitou (vi uma vez uma coisa parecida num país do terceiro-mundo, mas não tem nada que ver).
O resto foram discursos de circunstância, o mesmo diagnóstico sobre a situação do País que já ouvimos há 30 anos, o vazio de ideias e um primeiro-ministro que, incomodado por ter um Presidente “chato”, resolveu ser Presidente para poder ser primeiro-ministro sem os inconvenientes de ter que domesticar os selvagens de um partido político, ajudantes que não ajudam e alguém por cima a embirrar consigo.
Saí de Portugal no período áureo da governação de Cavaco Silva. E saí porque estava enojado de ouvir gestores públicos pedirem-me “comissões” para realizar negócios (em que até tinha a melhor proposta mas que perdia, sistematicamente, porque, trabalhava para uma multinacional em que a prática era interdita), estava cansado de dizer não a quem me convidava para dar cursos de formação fantasmas “da CEE”, estava farto de trabalhar na mesma empresa há 4 anos com recibos verdes, trabalhar 16 horas por dia e receber mal e estava enjoado com o clima de novo-riquismo e chico-esperteza em que uma boa parte dos meus compatriotas parecia sentirem-se bem. Saí de Portugal porque já não conseguia viver muito bem com isto tudo (e para ser honesto também porque tive uma boa oportunidade profissional). Para mim, foi o que me ficou do Cavaquismo. Isso, auto-estradas e uma quantidade absurda de dinheiro “europeu” que nem sequer sei muito bem para onde foi.
Se quisesse ser mauzinho diria que cada povo tem o presidente que merece. Como não sou, espero que, ao contrário do que mostra o mapa eleitoral, Portugal não se transforme de novo num enorme cavaquistão.
:: enviado por U18 Team :: 3/10/2006 04:00:00 da tarde :: início ::