quarta-feira, março 29, 2006
O capital humano e o CPE
Caro CMC:
Não me respondeu ao essencial: Como é que o CPE vai criar empregos (mesmo precários) para os jovens, quando os patrões franceses podem (e abusam de) fazer apelo gratuitamente a estagiários para os mesmos lugares?!...
Mas, como é óbvio, este seu post merece uma resposta mais profunda, não só com argumentos inerentes à realidade franco-francesa, mas também confrontados com a envolvente internacional a que se refere. Por agora, vou dar-lhe a mesma resposta que o Presidente Chirac deu hoje aos seus concidadãos: “falarei sobre o assunto nos próximos dias”!... Peço-lhe pois, a si e aos seus leitores do Tugir, um pouco de paciência, porque a questão é importante e dificilmente redutível a um pequeno post de blog. Fiquem atentos ao Briteiros, nos próximos dias...
Como aperitivo, deixo-vos apenas uma comparação:
Se a questão do CPE se pode resumir às suas particularidades que se prendem com a conjuntura económica, então suponho que os patrões esfregariam igualmente as mãos de contentes se pudessem negociar idênticos contratos com os seus fornecedores de maquinaria. Ou seja, “durante um período de dois anos, reservamo-nos o direito de vos devolver, sem justificação, as vossas máquinas. O preço a pagar será determinado em função do tempo durante o qual elas foram utilizadas”.
Esta hipotética cláusula não seria mais do que a transposição do CPE, do capital humano para o capital máquina.
:: enviado por JAM :: 3/29/2006 02:20:00 da tarde :: início ::
3 comentário(s):
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Caro JAM,De CMC, em março 29, 2006 7:36 da tarde
Respondi na caixa de comentários do TUGIR. -
Caro jam:De ""#$, em março 30, 2006 12:58 da manhã
Não perca o seu tempo a aturar essa luminária tugirense.
Está para lá do ponto de não retorno.
As mesmas pergunats que põe no briteiro também já eu as pus no modesto estaminé que animo(cOnjuntamente cOm outro participante) e a resposta foi sempre o mesmo jargão própRio de quem não faz um esforço para pensar.
Basicamente e entra pelos olhos dentro, um "patrão" irá contratar até aos 26 anos,e antes dos 27 irá despedir ,e repetirá o mesmo processo vez e vez e vez sem conta.
o desemprego estatístico sub 26 irá demonstrar que este baixou muitíssimo enquanto que o desemprego acima dos 27 aumentará extraordinariamente.
e volta tudo ao mesmo.
E o que é espantoso é verificar a existencia de militantes socialistas neoliberais a defenderem medidas neoliberais com toda esta convição...... -
Já tinha saudades de um blogue tão alheado das realidades económicas. Perdão, do economicismo neoliberal.De AA, em março 31, 2006 1:12 da manhã
Vamos lá a exemplos. O caro amigo tem um jardim para cuidar. Ou uma casa para limpar. Ou seja lá o que for. Num sistema de rigidez laboral, não compensa montar uma empresa que cuide destes trabalhos pouco especializados, precisamente porque o são, porque ter um quadro de profissionais de limpeza é rigidez a mais para um negócio que pode correr mal, como qualquer outro. Logo, estes serviços não são feitos. A oportunidade não é aproveitada. As pessoas que precisam ou pagam pela rigidez laboral, ou preferem recorrer ao mercado negro de trabalho - afinal, serviços "precários" sem a contratualização que permite proteger o trabalhador.
Liberalizando, passa a ser possível criar estes empregos. Podem até ser estruturalmente precários. Mas poderão dar emprego a quem por lá passar, que poderá estar protegido por Lei, com acesso a sistemas de protecção social, etc. A alternativa é este emprego não haver, e a riqueza não ser gerada (derivada da necessidade de bem-estar da parte do cliente).
Quando há rigidez laboral, há muita oferta de capital laboral. Logo o seu preço baixa. Logo passa a ser viável não pagar ordenados. Estágios gratuitos, porque afinal de contas a experiência conta. Havendo utilizações alternativas do tempo das pessoas, os empregadores têm de competir pelos trabalhadores, pagando-lhes.
Mesmo no pior cenário do CPE, os trabalhadores que se virem sem emprego ao fim de dois anos, para já terão ganho algum dinheiro, mas sobretudo experiência. O seu valor de mercado aumentou. Aumentaram as possibilidades de serem empregues. Quem sabe, alguns terão a iniciativa de começar micro-empresas, aproveitando a "precaridade" do CPE. Antes do CPE, ao fim de dois anos teriam os bolsos vazios, vinte e quatro meses de passeios nos subúrbios, mais conhecimentos streetwise, é verdade, mas as mesmas perspectivas cinzentas...