segunda-feira, março 27, 2006
O drama das reformas... em Inglaterra
Os reformados ingleses voltaram a desfilar nus pelas ruas de Londres, para chamar a atenção para a angústia da sua situação. Na Grã-Bretanha, o sistema de reformas tem uma componente estatal, bastante magra, que é completada por pensões complementares, provenientes das poupanças feitas pelos trabalhadores, que as investem em todo o tipo de aplicações financeiras, desde PPR ao imobiliário, passando por obrigações e acções. O sistema funcionou bem nos anos 90 com a subida da Bolsa, até ao crash. A partir daí, assistiu-se a todo o tipo de artimanhas, num sistema em que as normas de prudência na gestão e controlo são muito fracas. Certos gestores arriscaram demasiado nas acções, em detrimento de investimentos mais seguros. Certas empresas deixaram de cotizar julgando que a subida da cotação dos fundos garantiria só por si um rendimento suficiente e o próprio Estado em 1997 (obrigado Sr. Gordon Brown!...) decidiu subtrair desses fundos cinco biliões de libras todos os anos.
Resultado: alguns desses fundos declararam falência e os seus subscritores viram as suas pensões amputadas das respectivas porções complementares, que representam entre um terço e dois terços do último salário. Daí a manifestação de cerca de 80.000 reformados que alertam para a sua triste sorte, da maneira drástica que se pode ver. Tony Blair responde simplesmente que “não são os contribuintes que terão de pagar as perdas das empresas privadas”...
Este problema, socialmente dramático, da falência de muitos fundos de pensões mal geridos faz sobressair o problema conhecido na Grã-Bretanha da fragilidade das reformas face ao impacto da demografia que, como em Portugal, está extremamente desequilibrado. A Grã-Bretanha foi apanhada completamente desprevenida face ao problema, que é ainda maior que o nosso, já de si longe de ser perfeito. Os poderes públicos britânicos, que se encobrem agora por detrás do carácter privado desses fundos, fizeram na altura a sua promoção junto do público e beneficiaram indirectamente deles, por via do alívio da pressão que existia sobre o sistema do Estado, que eles tinham obrigação de sustentar. Para além disso, o Estado esqueceu em todo o processo o seu papel de polícia e de controlo régio, que era o de assegurar a gestão, o nível de risco, o carácter obrigatório das cotizações das empresas e dos trabalhadores e o equilíbrio dos regimes de pensões face aos fundos recebidos e aos compromissos futuros.
:: enviado por JAM :: 3/27/2006 10:51:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
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Portugueses: ponham o "rabo" de molho porque, mais dia menos dia, isto vai acontecer neste canto à beira-mar plantado!!!De , em março 27, 2006 2:38 da tarde