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domingo, abril 09, 2006

O Peru pode mudar

Não se pode falar no Peru sem que venham à memória os anos sangrentos de 1980 a 2000 que, segundo as organizações humanitárias, fizeram mais de 80 mil mortos por causas políticas. Ou seja, 4.000 por ano, 11 por dia. Por um lado, a organização guerrilheira Sendero Luminoso assassinou à esquerda e à direita milhares de pessoas, vítimas da sua “justiça revolucionária”. Por outro lado, a “justiça contra-insurgente” do Estado neo-liberal dos presidentes Belaúnde Therry, Alan Garcia e Alberto Fujimori não foi menos benevolente e assassinou cinco vezes mais, diluindo em luto e dor os “novos valores” de uns e de outros.
Em Novembro de 2000, depois de se ter refugiado no Japão por causa dos múltiplos escândalos financeiros, Fujimori anunciou por fax a sua renúncia à presidência. Meses depois, o descendente do império do sol nascente foi substituído pelo descendente do império inca e do Banco Mundial, Alejandro Toledo.
A luta contra a corrupção foi o símbolo das campanhas de Toledo (a que perdeu em 2000 e a que ganhou em 2001), que apesar de fervoroso adepto do mercado livre e das relações com os Estados Unidos, suscitou uma imensa expectativa popular por ser o primeiro presidente peruano de origem índia. A sua mulher, Eliane Karp, cidadã franco-belga, com um nobre percurso profissional bancário, de Washington a Telavive, passando pelo Luxemburgo, contribuiu para o seu sucesso eleitoral, ao entusiasmar as multidões, como uma Evita peruana, com os seus discursos exaltados em espanhol e em quechua. Não obstante, Alejandro Toledo, após uma série de escândalos de corrupção, é hoje o presidente mais impopular da História do Peru.
Foi mais esse capítulo de frustração, de cólera e de pessimismo que deu ao comandante Humala a vantagem na primeira volta. As suas diatribes contra a classe política corrupta, contra os deputados que ganham fortunas e não servem para nada, contra as empresas estrangeiras que se aproveitam dos recursos nacionais e humilham os peruanos, e as suas promessas de mandar para a prisão os exploradores e os ladrões, tocaram num nervo muito sensível daqueles que acreditam que a sorte do Peru pode mudar.

:: enviado por JAM :: 4/09/2006 11:52:00 da tarde :: início ::
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