BRITEIROS: A culpa portuguesa, essa solteirona <$BlogRSDUrl$>








quinta-feira, agosto 10, 2006

A culpa portuguesa, essa solteirona

Neste país, é regra a culpa morrer solteira.
Ninguém é responsável por nada do que é mau, por nada do que se faz mal feito.
Há acidentes nas estradas? A culpa é das estradas ou então das árvores que, volta e meia, traiçoeiramente, se vêm atirar contra os nossos bólides.
O PS ganhou as eleições com maioria absoluta? A culpa é dos marcianos que se deslocaram expressamente à Terra para votar e dar a maioria absoluta ao PS.
As pontes caem? A culpa é dos mortos que as desenharam e construíram porque não conseguiram prever que, muitas décadas depois, a retirada de areias dos rios daria (ainda) mais ânimo à economia nacional.
Existem portugueses, particulares e empresas, que não pagam impostos? A culpa é do Estado, que insiste em querer ter dinheiro para manter escolas, hospitais, tribunais, câmaras municipais, etc, e pagar a quem tem emprego nesses serviços.
Há miúdos à guarda de instituições públicas que se prostituem com figuras do jet-set nacional? A culpa é do... Bibi.
A culpa nunca é nossa, é sempre das circunstâncias, que têm o hábito ancestral de conspirar contra nós (lembram-se de Baco, nos Lusíadas?), ou das máquinas (então agora com os computadores…), ou, em última instância, “deles”, ou seja, do Governo e do Parlamento, ambos os quais emanaram da votação dos marcianos que fazem o favor de cá vir e votar por nós, ou ainda de algum desgraçado que possa servir de bode expiatório, daqueles desgraçados a quem até os cães ladram.
No caso concreto do homicídio da transexual Gisberta, a culpa ou foi da própria, que já cá não está para se defender e, na ocasião, não satisfeita com o facto de ser pobre, doente e transexual, ainda por cima não foi capaz de pôr na linha um bando de adolescentes armados de paus e pedras, precisamente dos tais que é suposto o Estado proteger e educar, ou foi do poço de 15 metros de fundura que, perversamente, estava ali mesmo à mão de semear.
Por conseguinte, de acordo com os nossos mui cantados e celebrados “brandos costumes”, o Ministério Público, baseado numa perícia médico-legal que concluiu que Gisberta morreu vitima de afogamento e que as lesões que lhe foram causadas pelos menores não eram fatais, “deixou cair” a acusação de tentativa de homicídio e passou a acusar de ofensas corporais qualificadas os menores que a torturaram e depois a atiraram para o poço.

:: enviado por Manolo :: 8/10/2006 10:36:00 da tarde :: início ::
0 comentário(s):
Enviar um comentário