quarta-feira, agosto 23, 2006
Recado a Bush e a Blair
O simbolismo não passou despercebido aos mais atentos. Muçulmanos britânicos suspeitos de fomentarem uma dezena de atentados sobre os aviões de linha que ligam Tony Blair a George Bush. Um simbolismo cujos efeitos colaterais contribuíram para fazer subir a cota de popularidade de Bush como há muito tempo não subia: 42% de opiniões favoráveis e 55% de opiniões positivas sobre a forma como a Casa Branca conduz a luta contra o terrorismo.Mais uma vez, os lorpas não perceberam nada. A conspiração ― ou complot, como foi apresentado ― pode explicar-se como a sanção de uma política externa. Ou a sanção de um discurso. O discurso que sustentam em uníssono o primeiro-ministro britânico e o presidente americano, acerca do “crescimento do extremismo”, do “eixo do mal” ou dos “fascistas islamistas”, que só contribui para dar consistência ao conceito tão temível de choque das civilizações.
Numa carta aberta a Tony Blair, as principais organizações muçulmanas britânicas acusaram a política externa do seu governo de ser responsável pela ascensão dos movimentos terroristas na Grã-Bretanha. De facto, o complot sanciona a política declamatória e pessoal do primeiro-ministro britânico, mais reveladora da sua visão étnico-religiosa do que dos interesses nacionais.
Ao privilegiar a “relação especial” com Bush, Downing Street descurou os problemas internos. A Grã-Bretanha do líder trabalhista parece acreditar que basta adoptar leis anti-terroristas para se proteger. Isso significa tratar o efeito em vez da causa. Depois de ter deixado desenvolver o Londonistão, onde prospera o islamismo radical, Tony Blair deu-se conta da ameaça do comunitarismo. Mas, mesmo assim, não levou a cabo nenhuma política de integração dos muçulmanos.
Exasperados pelos conflitos no Afeganistão, Iraque, e agora no Líbano, com cujos resistentes sentem afinidade de ideias, excitados por imãs pouco escrupulosos, que se aproveitam da sua desorientação, alguns jovens muçulmanos britânicos acabam por optar pelo terrorismo.
Apesar disso, a tese do choque civilizacional não é uma fatalidade. O Ocidente, umas vezes odiado, outras vezes admirado, não tem nada a ganhar em barricar-se numa fortaleza ilusória. Sem desprezar as ameaças com que cada vez mais se vê confrontado, deverá antes aprender a melhor integrar a diversidade. Caso contrário, a actual mistura de políticas externa e interna poderá vir a formar um cocktail explosivo.
:: enviado por JAM :: 8/23/2006 12:07:00 da manhã :: início ::