quarta-feira, novembro 01, 2006

iPod ou quando o capitalismo assim até nem é mau de todo

A Apple passou de empresa moribunda a empresa de sucesso e deve-o ao iPod. Merece.
Ao princípio não acreditei. Afinal, para que raio quereria ter no bolso três prateleiras completas da secção de música da FNAC, eu que já possuo uma quantidade muito razoável da música que quero ouvir? Depois experimentei e rendi-me.
Não é um objecto que nos faça pagar menos impostos, ter um Governo melhor ou que Cavaco Silva seja um bom Presidente mas é um objecto que ajuda a suportar as agruras do quotidiano e, logo, a fazer-nos um pouco mais felizes.
Um exemplo? - Repartição de Finanças. Após uma hora de espera: que não, que não era preciso pagar a prestação do imposto de sucessão porque já se tinha pago a totalidade. Que era um erro do computador. Que não, que não havia que ligar à carta a ameaçar levar-nos a mobília. Que também era um erro informático. Agora experimentem ouvir isto com uma orelha e o “Fuck U” dos Archive na outra. Têm de concordar que sabe bem.
Há mais. Associado ao objecto veio o conceito de venda de música à peça e que é, provavelmente, o maior contributo da Apple para a humanidade. Exceptuando os discos do Frank Zappa e o “Still Life” dos Van der Graf Generator, em todos os outros discos que possuo há sempre uma ou mais faixas de que não gosto. A partir dos anos 80 a coisa piorou. A rapaziada da música e das editoras acharam que bastava passar uma canção (mais ou menos bem conseguida) na rádio ou na MTV, encher o resto do CD de lixo e o sucesso de vendas estava garantido.
A Apple veio mudar isto tudo com o iTunes. Agora posso comprar apenas as músicas de que gosto e a rapaziada da indústria discográfica que puxe pelo talento, se o tiver, ou mude de profissão.
Ainda por cima, 90% dos componentes do iPod são fabricados nos EUA e no Japão e a Apple exige e verifica o cumprimento da lei nas fábricas de montagem na China. Que mais se pode pedir? Talvez que o objecto fosse um pouco mais barato e que se pudesse dar um a cada português, tocando indefinidamente o “Trouble every day” do Zappa.