BRITEIROS: Tirem as mãos do petróleo! <$BlogRSDUrl$>








sábado, outubro 28, 2006

Tirem as mãos do petróleo!

Ao observar agora toda esta espinhosa situação em Timor, vem-me à memória um dia dos finais de 2004 em que, para amenizar uma viagem de comboio entre Paris e o Luxemburgo, comprei o Le Monde Diplomatique. Trazia um excelente artigo que descrevia com extrema minúcia a maneira como a Austrália tem vindo a espoliar as jazidas de petróleo que pertencem a Timor-Leste. Durante a viagem, ainda tentei esboçar um texto que pudesse transformar essa longa história num compacto post para este blog.
Os afãs da altura não me deram oportunidade de o acabar. Confesso que também não fiz muito esforço. Em 2004, a indiferença do mundo em relação a Timor era tão grande que até a Shakira se insurgia contra essa indiferença. E, se houve alguém que beneficiou com essa apatia mundial, foi a Austrália.

Já em 1972 a Austrália tinha negociado com a Indonésia a partilha do mar de Timor. Uma das normas em vigor na época, para fixar as fronteiras marítimas, privilegiava a plataforma continental: a parte do leão (85%) ficava para a Austrália, deixando apenas 15% para a Indonésia. Mas Timor, que nessa altura era Portugal, recusou essa solução e a delimitação da fronteira entre a Austrália e Timor ― o chamado Timor-Gap ― ficou pendente de um acordo.
Quando, em 1975, Portugal deixou Timor, entrou em cena a Indonésia. Foi então que o embaixador australiano em Jacarta, Richard Woolcott, enviou ao seu governo um telegrama confidencial, revelado mais tarde: “Chegar a um acordo para fechar o ‘gap’ actual na fronteira marítima poderá ser mais fácil com a Indonésia do que com Portugal ou com Timor-Leste independente”... Infelizmente, trinta e um anos depois, a História deu razão a Woolcott.
“Sem a Austrália, Timor não será livre”, dizia Ramos Horta, em Maio de 2004. Três meses depois, numa conferência de imprensa colectiva ao lado do chefe da diplomacia timorense, o ministro dos Negócios Estrangeiros australiano, Alexander Downer, jogou o xeque-mate: “Timor pode perder o seu mais próximo amigo internacional. Para Timor-Leste a questão da soberania não é importante, mas as rendas são”.
Em resposta, Ramos Horta deixou bem clara a sua ideia de que os tribunais estavam fora de questão e que se deveria deixar de lado a questão da soberania, por dez ou vinte anos, para poder garantir a partilha dos recursos. Faltava só o Parlamento timorense ratificar os acordos... de submissão à lei do mais forte.
Deu no que deu.

Ontem fui à procura do tal artigo do comboio de 2004. Encontrei-o... em português.

Agora, só nos resta darmos de novo as mãos por Timor... e cantarmos alto e bom som.


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:: enviado por JAM :: 10/28/2006 11:06:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
  • Muito obrigado, foi um gesto bonito o seu. Tomei a liberdade de postar na caixa de comentários do Timor-Online (pelo menos esta já não está desconectada, mas o blog mantém-se sem entradas desde quinta-feira, o que é a 1ª vez que acontece) o seu post e o artigo do Diplo. Mais uma vez obrigado.

    De Anonymous Anónimo, em outubro 28, 2006 10:22 da tarde  
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