terça-feira, outubro 31, 2006
Enquanto a História não parar de se repetir...
Faz hoje 50 anos que a França e a Grã-Bretanha, aliados a Israel, lançaram uma operação militar de grande envergadura para recuperar o controlo do Canal do Suez, que, em 26 de Julho de 1956, fora nacionalizado por Nasser, oficialmente com o intuito de assegurar o financiamento da barragem de Assuão, que os americanos lhe haviam recusado. Em represália, os bens egípcios tinham sido congelados e a ajuda alimentar suprimida. Os principais accionistas do canal eram, então, os britânicos e os franceses.Oficialmente as partes em conflito procuravam uma solução diplomática, mas, no fundo, nem Paris nem Londres queriam desperdiçar o excelente pretexto para dar cabo de Nasser: Londres, para recuperar a sua influência perdida no Egipto, e Paris, para acabar com o apoio egípcio à rebelião nacionalista na Argélia. Para tal, aliaram-se secretamente ao jovem Estado de Israel, que nessa altura vivia em guerra com um Egipto que só pensava em riscá-lo do mapa.
Em 29 de Outubro, o plano avançou como previsto, com uma ofensiva do exército israelita no Sinai, que, apoiado clandestinamente pelo exército francês, infligiu uma derrota ao exército de Nasser. Logo após, franceses e britânicos ordenaram a israelitas e egípcios que se retirassem, em nome da defesa da liberdade de navegação. O Egipto recusou e... caiu na armadilha: no dia 31 de Outubro, as tropas franco-britânicas bombardearam o canal. E, quando, em 5 de Novembro, os pára-quedistas saltaram sobre Port-Saïd, já só encontraram um canal repleto de destroços de navios naufragados.
Mas... foi uma vitória sem futuro, pois o presidente americano, furioso por não ter sido informado, nem pelos seus dois aliados, nem por Israel, exigiu a retirada imediata de todos eles do canal. Estava-se em plena guerra-fria e os soviéticos foram mais longe e decidiram bravatear Paris e Londres com ataques nucleares. Juntos, como raramente se viu na História das Nações Unidas, Washington e Moscovo, obtiveram a saída do Egipto das forças estrangeiras.
No espaço de dois meses, Nasser transformou-se num herói do mundo árabe e o Canal no símbolo de um enorme fiasco da França e da Grã-Bretanha.
:: enviado por JAM :: 10/31/2006 08:34:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
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Sobre este assunto podem ver um outro texto em http://williambowlespt.blogs.sapo.pt/De , em novembro 02, 2006 12:06 da manhã
"Por isso, a causa das guerras que nos é inevitavelmente apresentada é que há uns indivíduos no poder que são maus, indecentes, que querem tomar conta do mundo ou destruir a “civilização” ou, como no caso do Nasser, têm uma espécie de necessidade adolescente de provar que são um “homem a sério”. Uma vez reduzidas a causas tão simplistas, torna-se mais fácil esconder as mais profundas razões por que os países vão para a guerra. Elas até podem existir, apesar de tudo, mesmo para alguém como Dejevesky, essas razões são impossíveis de ignorar, mas tentam-nos fazer crer que tais causas são menos importantes."