quarta-feira, novembro 01, 2006
"Unidade, unidade, unidade do trabalho contra o capital"... mas pouca!
No meu último post escrevi sobre sindicalismo a propósito de uma entrevista dada por um elemento da CT da AutoEuropa.Hoje, apetece-me escrever, não sobre os sindicalistas, mas sim sobre os sindicalizados e os não sindicalizados. É verdade que os sindicalistas deviam estar mais enraizados no mundo do trabalho, deviam estar mais nas empresas e deviam ver mais do que dois palmos à frente do nariz quando se trata de melhorar a vida dos associados (regra geral os sindicatos são muito imediatistas nas reivindicações que fazem, limitam-se a reivindicar o que a maioria quer no imediato: mais dinheiro ao fim do mês, esquecendo-se de que, como diria o outro, nem só de pão vive o Homem).
Mas não é menos verdade que grande parte dos trabalhadores sindicalizados também só exige do sindicato os tais vinte e cinco tostões de aumento salarial e que os defenda individualmente, em termos legais, se, por um azar da vida, algo correr mal com o seu rico trabalhinho (ou empregozinho) e estiver em risco de vir para o olho da rua ou qualquer desgraça semelhante. Dos não sindicalizados, então, que dizer? Se muitos até acham que os sindicalizados são totós por estarem a dispensar uma fracção do seu vencimento para os sindicatos? Se acham que sozinhos, com a sua esperteza e a sua manha (bem portuguesas), podem enfrentar o mundo e dar-lhe a volta, sem precisarem dos outros para nada?
A verdade é que, sindicalizados ou não, a maior parte dos trabalhadores se está nas tintas para tudo o que não seja “o fim do mês” (pois se ainda não fui ao Nordeste Brasileiro e ainda não tenho um plasma...).
Na mesma revista que publicou a entrevista com António Chora, lia-se uma outra entrevista com um médico da medicina do trabalho (de que agora não lembro o nome) que, a certa altura, dizia: “(...) Existe um controlo entre colegas: pode haver pessoas a olhar umas para as outras, às vezes sem fazer nada, para não serem as primeiras a sair. É uma coisa patética, mas que mostra o controlo social. Quando isto se torna perverso, pode gerar doença, stress profissional, crises de pânico, sindromas depressivos (...)”. Só quem nunca trabalhou numa empresa daquelas que acenam aos empregados com a cenoura das promoções “por mérito” (com numerus clausus), dos prémios de “produtividade”, da “repartição” de lucros, para lhes dar com o pau do trabalho a mata-cavalos e sem horário de saída a respeitar (a "disponibilidade" do trabalhador é um dos parâmetros mais importantes na sua apreciação pelas chefias), só quem nunca passou por isso pode ignorar que parte da responsabilidade destas situações é dos próprios trabalhadores, os quais, se acham quase sempre, individualmente, melhores (ou mais espertos) do que os parceiros do lado e, portanto, raramente contestam este tipo de situações em que a empresa divide para reinar, chegando até a colaborar com a entidade patronal no controlo psicológico dos colegas menos conformistas.
:: enviado por Manolo :: 11/01/2006 07:01:00 da tarde :: início ::