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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Secos & Molhados

Nem sei dizer porque é que estas coisas ainda me surpreendem. Depois da trágica morte de seis pescadores na Nazaré, fez-se o respectivo inquérito que, como de costume, concluiu que a culpa é do “sistema”. Até aqui nada de novo, estamos habituados.
Só que, de revelação em revelação - cada cavadela, uma minhoca - ficámos a saber:
1) O sinal de pedido de socorro foi recebido em Toulouse (!?) porque Portugal é o único país da Europa que não possui uma estação de rádio para captar estes sinais. Deve ser caro e a extensão da costa portuguesa não o justifica.
2) A Marinha portuguesa estima que só pode accionar os meios de salvamento quando conhece a localização exacta do barco acidentado. De preferência com uma precisão de 30cm.
3) O Instituto de Socorros a Náufragos funciona entre as 9 e as 17 e está fechado aos fins-de-semana e feriados. Os náufragos fora de horas devem tirar uma senha e esperar pela abertura da repartição.
4) As famílias não recebem as indemnizações dos seguros que pagam porque:
4a) Alguns corpos ainda não apareceram, pelo que se pode dar o caso de algum pescador estar à 15 dias agarrado a uma rocha. Ao fim de 5 anos, pode concluir-se que não sobreviveram a uma dieta de água do mar e excrementos de gaivota.
4b) O barco pode eventualmente ter estado a pescar numa zona não autorizada, pelo que é necessário fazer o respectivo inquérito de 10 anos, chegando-se depois à conclusão que a culpa é do peixe.
4c) Nada prova que os que morreram estavam mesmo no barco.

Dos 10000 (contas minhas, por alto) ministros, secretários de Estado, conselheiros e assessores que o Estado viu passar em democracia, não houve uma única alma que tivesse achado necessário investir num sistema de localização, em socorros cuja missão não seja recuperar cadáveres ou em indemnizar famílias primeiro e fazer inquéritos depois.
É o mesmo Estado que quer, a todo o custo, salvar-nos dos malefícios do tabaco, da velocidade excessiva, da gripe das aves, dos galheteiros de azeite abertos, dos pescadores à linha demasiado próximos, mas pensa que, a partir do momento em que a água nos chegue aos tornozelos, estamos por nossa própria conta e risco. É um Estado para os secos. Os molhados que se amanhem.

:: enviado por U18 Team :: 1/12/2007 10:39:00 da tarde :: início ::
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