quinta-feira, julho 19, 2007
Quem paga são os inocentes
Na Palestina não existe população civil. Principalmente em Gaza, onde tudo parece permitido na hora de deslegitimar o Hamas. O cerco que lhe foi montado está a impedir a UNRWA (Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos) de aceder aos materiais necessários para reconstruir escolas, centros de saúde, habitações, condutas de água e esgotos, que permitam melhorar as condições de sanidade de mais de um milhão de pessoas. Pior ainda, como Israel nem sequer deixa chegar o cimento, a UNRWA teve que suspender todas as obras e deixar sem paga as centenas de milhares de pessoas que subsistiam graças a esses pequenos salários.Saberá o Quarteto, que hoje se reúne em Lisboa, o que se está a passar com a população civil de Gaza? Os responsáveis da agência da ONU — um organismo que não deveria despertar suspeitas, por muito que os israelitas se empenhem em desacreditá-lo — contam-no todos os dias, com crescente angústia e alertam que as obras agora suspensas são imprescindíveis e vitais para a saúde pública. Para além disso, são trabalhos que facilitariam a vida de centenas de milhares de crianças porque, se as escolas não ficam prontas a tempo, vão ser elas a pagar o preço mais alto do conflito. Mas, pelo que se vê, os israelitas não se importam nada com o facto de não se construírem escolas da UNRWA em Gaza, porque estão convencidos de que elas só servem para predicar o ódio contra Israel.
Apesar disso, não só o Quarteto, mas a generalidade da opinião pública europeia, parecem tranquilos. Israel não permite que os habitantes de Gaza vivam como seres humanos mas também não os deixa morrer directamente de fome. A UNRWA comunica que continua a ter autorização para distribuir pelas famílias palestinianas, de dois em dois meses, um racionamento de 50 kg de farinha, 5 de arroz, 5 de açúcar, 5 de lentilhas, 1 de leite em pó e 2 litros de óleo. Mas Israel fornece apenas seis horas diárias de electricidade, o que, como é evidente, torna problemática a refrigeração dos alimentos, assim como o abastecimento de água, já que muitos palestinianos usam bombas eléctricas para a extrair.
Será que hoje alguém no seio do Quarteto se vai atrever a abrir os olhos para ver que tornar a esse ponto vulneráveis os direitos da população civil é um crime punido pelo direito internacional? Ou será que a Europa e os seus três outros cúmplices vão continuar a negar para sempre o conceito de população civil?
Etiquetas: Direitos Humanos, Palestina
:: enviado por JAM :: 7/19/2007 10:28:00 da manhã :: início ::