quarta-feira, setembro 26, 2007
É preciso menos cautela por parte da União Europeia
Em 2003, nas vésperas da guerra do Iraque, a “velha Europa” espantava-se com o seguidismo da “nova Europa” em relação aos Estados Unidos. Não conseguia perceber como era que nações ex-comunistas podiam conceder mais confiança a Washington do que a Bruxelas.É claro que as razões dessa “American Connexion” na Europa de Leste são múltiplas, mas entre elas há uma que sobressai sem equívocos: os antigos dissidentes e opositores achavam que o “apoio dos Estados Unidos à democratização” do antigo bloco soviético tinha sido muito mais expedito do que o dos europeus do Oeste. Enquanto que as organizações americanas, oficiais ou não-governamentais, guardavam nitidamente as distancias em relação às instituições comunistas, as formações políticas e sindicais europeias defendiam mais o diálogo e o desanuviamento e procuravam não aparecer abertamente ao lado das forças dissidentes.
Os democratas birmanes correm o risco de seguir o mesmo caminho dos europeus de Leste, se a União Europeia deixar, mais uma vez a iniciativa e a boa mercê aos Estados Unidos. Ontem, o presidente Bush mostrou-se particularmente severo perante a junta militar birmane e fez da democratização da Birmânia um dos pontos-chave do seu discurso nas Nações Unidas.
A Grã-Bretanha, cuja diplomacia é dirigida por um jovem particularmente empenhado na defesa dos direitos humanos, elevou o tom de voz para tomar o partido de Aung San Suu Kyi. O presidente Sarkozy recebeu em Paris o líder da oposição no exílio, Sein Win.
E a União Europeia? Qual foi a reacção da União Europeia, na pessoa do seu presidente em exercício, José Sócrates? Apelou às autoridades de Myanmar para “respeitarem os direitos humanos e especialmente para não exercerem qualquer forma de violência sobre os cidadãos”. É o que se chama “reagir com cautela”.
Enquanto isso, o exército birmanês já começou a agir sem cautela...
:: enviado por JAM :: 9/26/2007 08:49:00 da tarde :: início ::
4 comentário(s):
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“Pelo menos dois monges budistas morreram hoje nas ruas de Rangum, na Birmânia, quando as forças policiais começaram a reprimir o maior movimento de contestação à junta militar dos últimos 20 anos”, pode ler-se mesmo agora no Público on-line, que nem sequer menciona que hoje em Gaza os israelitas mataram 8 palestinianos e feriram 21: “GAZA (Reuters) - Des frappes israéliennes ont fait huit morts et 21 blessés dans la bande de Gaza, où Israël menace de mener une opération militaire d'envergure”.De , em setembro 26, 2007 9:59 da tarde
Não serão os Palestinianos humanos ou apenas já se tornou um hábito para os humanos que somos todos nós, nem ligarmos às violações dos seus direitos humanos? -
Por lapso não mencionei que o texto da Reuters foi tirado do Le Monde online.De , em setembro 26, 2007 10:28 da tarde
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Que é que estão à espera para propor gentilmente à China que mande para a reforma os velhos, caducos e doentes militares da junta e, em troca, ofereça aos simpáticos birmãs eleições livres? O povo chinês nem precisava ter conhecimento desse gesto internacional dos seus governantes (que é para não serem tentados a pedirem a mesma coisa).De , em setembro 27, 2007 11:49 da manhã
Sanções económicas não servem para nada. Veja-se o que aconteceu no Iraque e o que ameaçam fazer no Irão.
Mas um papão do tamanho dos Jogos Olímpicos, uma simples ameaça apavorante por parte dos países da União Europeia (bastava os grandes) de boicotarem a grande festa chinesa do próximo ano, vinha mesmo a calhar e chegava às mil maravilhas para convencer os chineses a falarem ao ouvido (ou ao aparelho auditivo) dos decrépitos militares da Burma. -
Eu anteontem vi no telejornal da TV5Monde o que alguns chamam de "idiota útil" mas que eu prefiro chamar de “histérica profissional”, pela enésima vez a berrar contra mortes, torturas, repressão, massacres, violações de todos os direitos humanos e mais um e a exigir de imediato até o boicote aos jogos olímpicos. No fim dessa longa entrevista, deram a informação que seria hoje recebida pelo Sarkozy integrada numa delegação da oposição de Myanmar. E enquanto ouvia a ladainha lembrei-me da mesmíssima ladainha que nem há muito tempo fizera exactamente a mesma fulana antes da invasão do Afeganistão (numa manif com burkas e tudo), também antes da guerra do Iraque e antes dos bombardeamentos na Bósnia primeiro e na Jugoslávia depois, pelo menos. E lembrei-me que a mesmíssima fulana fora na altura também presença constante nos estúdios e em recepções do Jospin e do Mitterand. Mais velha, mais desgastada, mais patética era mesmo a Jane Birkin.De , em setembro 27, 2007 2:15 da tarde
Não tarda muito temos a Redgrave na BBC e na Sky. E entretanto mais de 2,5 milhões de deslocados e de 2 milhões de refugiados, 600.000 civis mortos apenas no Iraque, a maior produção de sempre de droga no Afeganistão, os mortos, destruições, deslocados na ex-Jugoslávia, mas disto, das consequências nunca as ouviremos falar.
Claro que é escusado sonharem que a China ou a Índia se imiscuam nos assuntos internos de um Estado soberano pois sempre foi essa a sua posição: não interferem em casa alheia nem permitem interferências na sua própria casa.