domingo, outubro 21, 2007
A cor do rugby
E a África do Sul é campeã mundial de Rugby.
Como em qualquer campeonato de qualquer modalidade, ficarão sempre algumas interrogações sobre o mérito dos campeões: se tivessem jogado contra a Austrália ou a Nova Zelândia (com quem perderam nas Três Nações deste ano) teriam chegado à final? Se a arbitragem da final não tivesse tido algumas decisões infelizes, teriam ganho na mesma (atenção, não há aqui qualquer insinuação. Foi só isso mesmo, decisões infelizes)?
De qualquer maneira, a África do Sul foi das equipas mais regulares do princípio ao fim do campeonato, apresentou uma equipa impressionante quer individual quer colectivamente e… ganhou a final. Não há que lhes retirar uma gota de mérito nesta vitória.
A final foi mais ou menos o que se esperava: um espectáculo de alto nível a que só faltaram os ensaios para ser memorável. Um combate de avançados em que os ingleses encontraram (finalmente) um pack à sua altura. Ganhou quem soube aproveitar melhor as faltas do adversário e quem soube controlar melhor o jogo. Parabéns à África do Sul.
A questão que se coloca agora é o que vão fazer com esta vitória. Há já algum tempo que a polémica corre no país, com dirigentes do ANC a fazerem sucessivas declarações sobre a falta de representatividade da equipa nacional. Tradicionalmente, na A. do Sul o rugby sempre foi o desporto dos brancos enquanto o futebol é o desporto dos negros. Não tem que ser assim mas é assim. Como consequência, ontem, na equipa inicial, havia 13 brancos e 2 mulatos. Até agora, o treinador Jake White resistiu a todas as pressões e fez o que qualquer treinador deve fazer, ou seja, escolher o que considera serem os melhores jogadores para ganhar. Os resultados dão-lhe razão. Com a saída de White, as portas estão abertas para instituir uma espécie de sistema de quotas em que um maior número de jogadores negros entrará na equipa.
Em vez de aproveitar todo o dinheiro que, graças a esta equipa, tem entrado (e vai entrar) na Federação sul-africana para promover o rugby nos bairros negros e nas escolas e esperar pacientemente que uma politica de fundo e a demografia acabe por dar resultados, os dirigentes do ANC parecem preferir a solução fácil de impor uma maioria de jogadores negros na equipa independentemente da sua qualidade comparativa em relação aos brancos.
Ontem, como qualquer politico que se preze, Thabo Mbeki apropriou-se da vitória. Ele que também já mostrou o seu desagrado pela presença de tantos brancos na equipa nacional e que dá cobertura, implicitamente, ao sistema de quotas. Que aproveite bem este momento porque, a confirmar-se o que está anunciado, não se repetirá por muitos anos.
Etiquetas: Desporto
:: enviado por U18 Team :: 10/21/2007 03:39:00 da tarde :: início ::