segunda-feira, outubro 08, 2007
O Guerrilheiro Heróico
40 anos após o seu assassínio, contra tudo e contra todos, Che continua vivo na memória dos pobres e oprimidos que sempre defendeu e por quem deu a vida.
A promessa, feita à Velha Maria, continua de pé!!! A alvorada chegará!!!
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Velha Maria
Velha Maria, vais morrer
quero falar-te a sério:
A tua vida foi um rosário completo de agonias,
não houve homem amado, nem saúde, nem dinheiro,
quase nem a fome para ser partilhada;
quero falar da tua esperança,
das três diferentes esperanças
que a tua filha fabricou sem saber como.
Segura esta mão que parece de criança,
nas tuas polidas pelo sabão amarelo.
Esfrega os teus calos duros e os nós dos dedos puros
na suave vergonha da minha mão de médico.
Escuta, avó proletária:
Acredita no homem que chega,
acredita no futuro que nunca verás.
Não rezes ao deus inclemente
que toda uma vida mentiu à tua esperança;
nem peças clemência à morte
para veres crescer as tuas carícias pardas;
os céus são moucos e em ti manda o obscuro;
sobretudo terás uma vermelha vingança
juro pela exacta dimensão dos meus ideais.
Morre em paz, velha lutadora.
Vais morrer, velha Maria;
trinta projectos de mortalha
dirão adeus com o olhar,
num destes dias em que irás embora.
Vás morrer, velha Maria,
ficarão mudas as paredes da sala
quando a morte se conjugar com a asma
e copularem o seu amor na tua garganta.
Essas três carícias construídas de bronze
(a única luz que alivia a tua noite)
esses três netos vestidos de fome,
terão saudades dos nós dos dedos velhos
onde sempre achavam um sorriso.
Era tudo, velha Maria.
A tua vida foi um rosário de magras agonias
não houve homem amado, saúde, alegria,
quase nem a fome para ser partilhada,
a tua vida foi triste, velha Maria.
Quando o anúncio de descanso eterno
enturva a dor das tuas pupilas,
quando as tuas mãos de perpétua esfregona
absorverem a derradeira ingénua carícia,
pensas neles... e choras,
pobre velha Maria.
Não, não faças isso!
Não ores ao deus indolente
que toda uma vida mentiu à tua esperança
nem peças clemência à morte;
a tua vida foi horrivelmente vestida de fome,
acaba vestida de asma.
Mas quero anunciar-te
em voz baixa e viril das esperanças,
a mais vermelha e viril das vinganças
quero jurá-lo pela exacta
dimensão dos meus ideais.
Segura esta mão de homem que parece de criança
entre as tuas polidas pelo sabão amarelo;
esfrega os calos duros e os nós dos dedos puros
na suave vergonha das minhas mãos de médico.
Descansa em paz, velha Maria,
descansa em paz, velha lutadora,
os teus netos todos verão a alvorada.
EU JURO.
:: enviado por ja :: 10/08/2007 10:57:00 da tarde :: início ::