BRITEIROS: A « mudança » de Sócrates <$BlogRSDUrl$>








domingo, setembro 26, 2004

A « mudança » de Sócrates

José Sócrates é o novo secretário-geral do Partido Socialista. Tal como na lógica eleitoral americana, ficou demonstrado que já não é o discurso ideológico que conta, mas sim o circo das influências e os malabarismos do clientelismo tradicional do aparelho partidário. A primeira declaração política de José Sócrates como novo secretário-geral do PS foi considerar que o acontecimento marcou o início da “mudança política de Portugal”. Esta mudança política significa, na realidade, que os portugueses vão passar a ter que escolher entre um partido abertamente neoliberal e um partido neoliberal que, ambos, de social só têm o nome.

Em 2002, os portugueses votaram à sombra do desgosto provocado pelas decisões infelizes e as hesitações do governo socialista de António Guterres. A chegada ao poder da direita portuguesa não foi consequência duma escolha iluminada do eleitorado, mas sim de um voto de protesto contra um partido que não soube controlar o aparelhismo e que se transformou num partido “interclassista”, isto é, num partido de esquerda que aplica uma política de direita. Não foi pois surpreendente que o povo português, na sua sabedoria, tenha decidido : “Para termos uma política de direita, mais vale elegermos um partido de direita”.

Na continuidade de Guterres, José Sócrates representa, em Portugal, a Terceira Via - o "centro radical" político – uma espécie de social-democracia modernizada a meio caminho entre o capitalismo e o socialismo. Os líderes da Terceira Via pedem às empresas e aos grupos económicos que se comportem “responsavelmente”, mas nunca os penalizam tão duramente como os trabalhadores, os pobres ou os fracos. Na linha ideológica de Tony Blair e Gerhard Schröder, proclamam que “o estado deve remar mas não deve segurar o leme” e então “remam” ajudando as empresas com reduções de impostos, subsídios e pressionando-as para abrirem mercados no estrangeiro. Na sua ânsia de procurar uma posição económica vantajosa, tanto a protecção do ambiente como os interesses do consumidor e as normas laborais ficam completamente à margem das suas preocupações políticas.

É esta política de “mudança” que José Sócrates promete agora aos portugueses. Só que, não se consegue mudar o país se não se mudarem os partidos que dominam o espaço da decisão política. Maus partidos fazem uma má democracia. E com má democracia não pode haver verdadeiro desenvolvimento económico, cultural e social.

:: enviado por JAM :: 9/26/2004 03:36:00 da tarde :: início ::
4 comentário(s):
  • O sr Sócrates representa os membros do PS que só por circuntâncias da vida ou por parecer bem é que lá estão. Esta facção do PS estaria muito confortávelmente inscrita no PSD - talvez agora não confortávelmente por causa da aliança deste a um grupelho radical. Este PS, quer uma coisa tipo meias tintas como o Governo do Guterres: que não se toque nas convencções, nos maus presidentes da Câmara, mas que garantem muitos votos, etc. etc.
    Se esta facção quer ver um Governo de Esquerda, olhem para lá de fronteira, vejam como há coragem para cumprir a palavra dada em eleições, sem se esconder atrás de referendos. Como há coragem para tomar medidas polémicas e ao mesmo tempo consciência social.

    De Anonymous Anónimo, em setembro 26, 2004 11:07 da tarde  
  • Está garantida a "alternância". Podem os "boys ficar descansados que em 2006 vai haver tachos para todos! Quanto à destruição da Escola Pública e do Serviço Nacional de Saúde, à fraude e evasão fiscal, ao descalabro da Justiça, há-de continuar tudo na mesma, mas isso são questões "menores". Não há dúvida, parece que os portugas acham mesmo que no "centro" é que está a virtude! Aguentem-se...

    De Anonymous Anónimo, em setembro 26, 2004 11:38 da tarde  
  • A democracia é um mecanismo para gerar consensos, não é uma garantia nem de qualidade nem de escolha dos melhores. Os socialistas portugueses - e parece que só há cerca de trinta mil - escolheram democraticamente José Socrates para seu secretário-geral. Há que respeitar essa escolha, tanto mais que são os próprios socialistas que terão de suportar as consequências de terem escolhido para lider alguém que nunca porá em prática os valores socialistas. Os socialistas que maioritariamente votaram em José Socrates afirmaram publicamente que não se importam de ter como chefe de um futuro governo socialista alguém que poderia muito bem ser do PSD, tal é a identidade das suas soluções com as soluções desse mesmo PSD. Disseram ainda que se estão nas tintas para o facto do seu secretário-geral pertencer à mesma seita internacional (capitalista) que o actual primeiro-ministro - o Grupo de Bilderberg. A escolha foi democrática, não tenhamos disso quaisquer dúvidas, mas não foi nem inteligente nem favorável às necessidades dos portugueses. Eu, que não me passaria pela cabeça alguma vez filiar-me no PS, posso dizê-lo sem correr o risco de ser acusado de mau perdedor

    De Anonymous Anónimo, em setembro 27, 2004 9:34 da manhã  
  • Excelente post

    De Blogger gin, em setembro 29, 2004 5:04 da tarde  
Enviar um comentário