segunda-feira, fevereiro 28, 2005
A percepção da corrupção
Saldana Sanches disse hoje, numa entrevista ao DN, que “O número de presidentes de câmara que exigem luvas para instalar empresas no seu concelho é assustador”. Passadas algumas horas, Fernando Ruas presidente da ANMP e da Câmara de Viseu, vem ameaçar instaurar um processo judicial a Saldanha Sanches por difamação.
Como muita gente – creio – já passei por situações em que, descaradamente ou de forma mais subtil, me foi pedido dinheiro para resolver problemas administrativos (legítimos) que de outra maneira continuariam a hibernar na poeira das repartições públicas. Como quase toda a gente, não posso provar absolutamente nada. Não sendo as gravações consideradas meio de prova no Tribunal, não havendo testemunhas, fica a minha palavra contra outra e a acusação acaba aqui.
Tenho a certeza que haverá muitíssimos autarcas e funcionários públicos que são honestos. Mas também desconfio que há muitos que não o são. Mais importante do que esta reacção de “quem se não sente ...” é a consciência que todos deveríamos ter (mesmo que seja só uma percepção) do nível de corrupção na sociedade e em que medida a economia é afectada. Pegando num estudo da Transparency International Portugal ocupava, em 2004, o 27° lugar no ranking da percepção da corrupção em cada país com um score de 6,3 (sendo 10 um país “limpo” e 0 um país altamente corrupto). É certo que temos atrás de nós, na Europa, a Itália (42°) ou a Grécia (49°). É certo que há muito pior (há sempre pior). Mas será isso o suficiente para dos darmos por satisfeitos e continuarmos a assobiar para o ar? Se Portugal fosse um país a nadar em dinheiro talvez fosse uma boa posição, no estado da nossa economia não o é certamente.
Penso que ao Sr. Fernando Ruas, em vez de ameaçar com processos que sabe muito bem que não darão em nada por não haver nenhuma acusação directa a uma pessoa, ficaria melhor bater-se por uma maior transparência das autarquias e dos autarcas e, por exemplo, sugerir a comparação do património dos autarcas antes e depois de tomarem posse ou pugnar pela condenação dos corruptos e afastá-los da vida pública. Talvez assim a nossa percepção da corrupção se altere para melhor.
Como muita gente – creio – já passei por situações em que, descaradamente ou de forma mais subtil, me foi pedido dinheiro para resolver problemas administrativos (legítimos) que de outra maneira continuariam a hibernar na poeira das repartições públicas. Como quase toda a gente, não posso provar absolutamente nada. Não sendo as gravações consideradas meio de prova no Tribunal, não havendo testemunhas, fica a minha palavra contra outra e a acusação acaba aqui.
Tenho a certeza que haverá muitíssimos autarcas e funcionários públicos que são honestos. Mas também desconfio que há muitos que não o são. Mais importante do que esta reacção de “quem se não sente ...” é a consciência que todos deveríamos ter (mesmo que seja só uma percepção) do nível de corrupção na sociedade e em que medida a economia é afectada. Pegando num estudo da Transparency International Portugal ocupava, em 2004, o 27° lugar no ranking da percepção da corrupção em cada país com um score de 6,3 (sendo 10 um país “limpo” e 0 um país altamente corrupto). É certo que temos atrás de nós, na Europa, a Itália (42°) ou a Grécia (49°). É certo que há muito pior (há sempre pior). Mas será isso o suficiente para dos darmos por satisfeitos e continuarmos a assobiar para o ar? Se Portugal fosse um país a nadar em dinheiro talvez fosse uma boa posição, no estado da nossa economia não o é certamente.
Penso que ao Sr. Fernando Ruas, em vez de ameaçar com processos que sabe muito bem que não darão em nada por não haver nenhuma acusação directa a uma pessoa, ficaria melhor bater-se por uma maior transparência das autarquias e dos autarcas e, por exemplo, sugerir a comparação do património dos autarcas antes e depois de tomarem posse ou pugnar pela condenação dos corruptos e afastá-los da vida pública. Talvez assim a nossa percepção da corrupção se altere para melhor.
:: enviado por U18 Team :: 2/28/2005 06:59:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
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Eu sei que este meu testemunho vai contra tudo o que é já dado como adquirido, mas não quero deixar de aquí declarar que nunca, em 60 anos de vida, alguém me sugeriu algo do que estas notícias referem. Sabe bem que a nossa maneira, bem portuguesa, de estar é excelente para estas coisas. Generaliza-se o conceito e passa a ser ponto de honra. Depois vai-se a apurar e ninguem reconhece ter ou ter sido corrompido. Conhecem-se variadíssimas estórias...e ficamos por aí!De pindérico, em fevereiro 28, 2005 11:29 da tarde
Claro que nem tudo serão falsidades, mas também nem tudo é como se diz!
Aquele estrangeiro radicado em Portugal que se referia a nós como um povo tão estranhamente masoquista que a propósito de tudo usa a expressão "isto só em Portugal!" vem-me muitas vezes à memória.