quinta-feira, março 31, 2005
O que conta
Ainda a propósito do Papa, o que conta, parece-me a mim, não é o sofrimento individual exibido sem pudor ao mundo (ao mesmo nível – e não certamente por acaso – do recente filme “A paixão de Cristo” do fundamentalista Mel Gibson), com o que isso tem de constrangedor para quem vê e de vexatório para quem sofre. Até porque o sofrimento físico, admitamo-lo, não é compartilhável, seja qual for a admiração, o respeito ou até mesmo o amor que nos inspira quem sofre. No caso do Papa, o que conta é que espreitemos para trás do cenário: Para não ir mais longe, sabe-se que a Igreja não se perde de amores pela mudança. Depois de ter saído das catacumbas romanas, aproximou-se do poder, associou-se a ele e, em muitos casos, apropriou-se dele. A partir daí, tratou de ser sempre um travão ao progresso (é possível esquecer Galileu? E se o autor do “Código Da Vinci” tivesse vivido há uns séculos atrás, não seria consumido pelas chamas do inferno ainda em vida?). Passou de perseguida a perseguidora, de vitima a carrasco, de revolucionária a reaccionária e não hesitou um instante em recorrer a todos os meios para cumprir os seus fins. Quando digo Igreja, estou a referir-me à hierarquia – não, naturalmente, às honrosas excepções (S. Francisco de Assis ou os “teólogos da libertação”, por ex.). Sendo assim e tendo todos nós lido ou ouvido falar sobre as ligações perigosas do Vaticano no mundo dos negócios, podemos fácilmente concluir que o risco não é a profissão deles, que não lhes interessa trocar o certo pelo incerto e, tendo mesmo de ser (afinal o homem pode até ser “infalível”, mas não deixa de ser mortal), que seja o mais tarde possível.Por “falar” em bastidores, o PÚBLICO espreitou os do finado governo do guerreiro-menino e descobriu um mega-negócio das telecomunicações concretizado já depois das eleições e que envolvia o ministro Daniel Sanches, o antigo secretário de estado da administração fiscal, Oliveira e Costa, o impoluto e muito católico Bagão Félix e o omnipresente nesta coisa dos negócios, Dias Loureiro, também ex-governante e muito escutado pelo ex-1º ministro nas vésperas da formação do seu governo (este “seu” é propositado: não sei, embora suspeite, de quem era o governo, se dum se doutro…).
Já agora, atrás do actual prime-minister quem estará? Só o Jorge Coelho?...
:: enviado por Manolo :: 3/31/2005 10:15:00 da tarde :: início ::