BRITEIROS: O desencanto do

quinta-feira, junho 02, 2005

O desencanto do « Sim »

O “Nee” dos holandeses, expressivo e sem margem para dúvidas, dá continuidade ao folhetim de que o “Non” francês foi o primeiro episódio. Tal como a França, a Holanda viu espelhados no projecto da Constituição europeia o desemprego, a vida cada vez mais cara, o alargamento, os estrangeiros, as elites europeístas, a burocracia de Bruxelas. Por tudo isso, os holandeses, como os franceses, preferiram dizer “Não” ao Tratado constitucional, na esperança que os outros parceiros da União lhes dêem um dia razão.
Os defensores da Constituição não têm sido capazes de dissipar todos esses medos acumulados. Por exemplo, o liberal Nicolas Sarkozy sempre garantiu que o Tratado permitiria a saída para a crise francesa através da via do neoliberalismo, o que não é propriamente aquilo que a maioria dos franceses esperava ouvir. Do lado do PS francês, os defensores do “Sim” reconheceram que o texto do Tratado ficava muito aquém do que seria desejável, o que sendo uma marca de franqueza, esteve longe de ser um factor de entusiasmo.
É curioso que, também em Portugal, os defensores da Constituição estão a ir pelo mesmo caminho e a revelar a mesma falta de entusiasmo. Vale a pena ler, por exemplo, com que argumentos o sociólogo Manuel Villaverde Cabral defende a sua opção pelo “Sim”:
O Tratado em si é muito mau, mas mesmo assim é um passo no bom sentido. É mau no plano social, sobretudo, mas não só. Contudo, a partir do momento em que houvesse, nem que seja simbolicamente, uma constituição europeia, isso permitiria lutar por uma constituição melhor. Sem constituição, nada posso fazer à escala europeia, que é a única escala real onde a esquerda hoje poderia operar. […] Como europeu vivendo em Portugal, preferiria o mínimo europeu aos direitos garantidos por um Estado como o nosso, que nos rouba no dia seguinte a ter ganho as eleições! Sendo péssima, a Constituição era boa de mais, pois tinha o mérito fundamental de existir […]