segunda-feira, julho 04, 2005
Função pública
Vamos lá parar um pouco para pensar.Por alguma razão os sucessivos governos deste país, mais neo-liberais ou menos neo-liberais, quando, confrontados pelos patrões de Bruxelas com o estado (de coma?) a que chegou este mesmo país, têm de mostrar serviço, de fazer show-off, de salvar as aparências, fazem menção de se atirar à chamada “função pública” como gato a bofe. Porque será?
Provavelmente porque sabem que para reinar é conveniente dividir e, para fazer da função pública um bode expiatório, sempre poderão contar, à partida, com o apoio dos outros, dos assalariados e pensionistas do sector privado. E porquê? Porque se generalizou a ideia de que, por via de regra, o funcionário público trabalha menos e pior e ganha mais e desfruta de melhores condições do que os privados. E porque, apesar desta diferença de estatuto – que até, em alguns casos, pode não corresponder à realidade -, o que qualquer um pode verificar, no dia a dia, é que os serviços públicos, também por via de regra, funcionam mal, produzem resultados medíocres, não satisfazem os utentes. E quanto mais especiais e privilegiados (casos, por ex., da saúde e da justiça) pior. Portanto…
Agora, o que está por provar é que os governos queiram, realmente, mexer na função pública para resolver esta questão, para a pôr a funcionar com eficácia, a favor dos contribuintes, que justificam a sua existência e a pagam. Eu acho que não.
1º, porque eles próprios são funcionários públicos e f. p. altamente privilegiados (reformas rápidas e chorudas, subvenções vitalícias, subsídios de reintegração, enriquecimento rápido, etc, etc, etc); os próprios governantes (poderes executivo, legislativo e judicial) são, não a solução, mas parte (e uma parte não desprezível) do problema;
2º, porque os f. p. são muitos e, se contarmos também os membros das suas famílias, muitos mais, uma quantidade de votos não desprezível;
3º, porque, ou muito me engano, ou grande parte destes votos têm caído no saco do PS e do PSD, ou seja do bloco central (diga-se o que se disser, a verdade é que têm sido os governos do bloco central que, desde há muitos anos, têm vindo a engordar as fileiras da f. p. com militantes, simpatizantes, amigalhaços, afilhados e quejandos e têm vindo a dar, a todos em geral e aos dirigentes em particular, o estatuto privilegiado que agora têm ou que é sentido como tal pela restante população). Trata-se de uma pescadinha com o rabo na boca: os vários governos têm criado este “fartar vilanagem” e a “vilanagem” tem criado estes governos.
A verdade é que os governos têm saído (quase sempre) de eleições e, de há 30 anos a esta parte, os eleitores têm votado sempre nos mesmos, sempre no mesmo sentido, o que, pelo menos para um extra-terrestre que nos tenha estado a estudar lá de cima, parece indicar que tudo está bem, na maior, meus, que tudo está posto em sossego, que todos estão instalados nos seus devidos lugares, graças a Deus, antes para as Finanças que para a farmácia…ou para o cangalheiro, e tanto assim é que até há muita gente que nem se dá ao “incómodo” de votar porque não vale a pena, os outros resolvem por eles e bem resolvido fica. Mudam as moscas e permanece a tranquilizante e reconfortante merda do costume…À boa maneira portuguesa, vai-se indo…
(Não, não estou a esquecer-me do financiamento dos partidos, do branqueamento de capitais, dos mercados paralelos, dos negócios escuros, das profissões liberais que não pagam impostos, da corrupção activa e passiva, do caso particular e ainda mais triste da Madeira, etc, etc, etc. Simplesmente este post era apenas sobre a função pública.)
:: enviado por Manolo :: 7/04/2005 10:19:00 da tarde :: início ::