BRITEIROS: Figo maduro <$BlogRSDUrl$>








domingo, agosto 07, 2005

Figo maduro

E você, caro leitor, também já sabe que Luis Figo se transferiu para o Inter de Milão, onde vai ganhar menos uns milhões mensais do que ganhava no Real Madrid (mas, mesmo assim, mais do que nós dois em 10 ou 20 anos de trabalho)? Já sabe, claro. Impossível não saber: a gente põe o pé fora de casa e se não olhar para os escaparates dos jornais, pelo menos ouve as conversas sobre o tema no café, na praia, nos transportes ou no local de trabalho; a gente fica em casa e liga a rádio ou a TV e lá está a transferência.
Mesmo estando a banhos (e, em Agosto, metade do país está a banhos), isso o pessoal sabe. O pessoal tem de se distraír com alguma coisa. Daí ser tão importante termos pago (ou andarmos a pagar) os estádios do Euro 2004 – é preciso animar a malta, entreter o pagode. O pagode precisa de se entreter, precisa de meter a cabeça na areia (de preferência no Algarve) para não ver o quintal das traseiras a arder todos os Verões até não haver nas traseiras senão um sitio degradado para onde se pode deitar o lixo à vontade, e, em geral, para não ver o Estado a que isto tudo está a chegar. O pessoal precisa, porque precisa, de olhar para o lado e assobiar, não é nada comigo, não é nada comigo, precisa de não ver e, se vir, precisa de esquecer rapidamente o que viu, ligar à terra, borrifar-se no assunto, encolher os ombros, beber mais um copo e escutar mais um fado. Quando voltar de férias, quando tirar a cabeça da areia, vai metê-la nos jornais do futebol ou, no caso do ramo feminino, nas telenovelas e nas revistas cor-de-rosa. E quando começar enfim a sentir um estranho bafo na parte de trás do pescoço, é capaz de, na rentrée, sair para a rua e gritar uns morras e uns vivas, após o que, volta para casa satisfeito consigo mesmo, aliviado como quando no estádio insulta a mãe do árbitro ou desanca alguém da claque inimiga. Aliviado porque expressou a plenos pulmões o que diáriamente diz à mesa do café e no local de trabalho (ou no local do emprego – para os que têm emprego mas, felizmente para eles, não têm trabalho) sobre essa cambada de políticos que mal chega ao governo, mete na gaveta as promessas eleitorais e começa logo a fazer merda, porque, no fim de contas, são todos uns aldrabões e uns ladrões, e vão para o governo só para se governarem. E tão aliviado fica, tão de consciência tranquila, tão de bem consigo próprio (o que, aliás, ao contrário do que ás vezes se diz, não é difícil: os portugueses não têm falta de amor-próprio, têm é excesso dele…), que, com o tempo, lá se vai adaptando (é uma das supostas e cantadas qualidades dos portugueses o adaptar-se às situações, o desenrascanço) às novas a cada vez piores condições de vida (para a maioria, claro, que para os outros as mordomias, os carros de gama alta, as férias em destinos exóticos, as senhoras com casa posta, etc, estão aí para os compensar de se sacrificarem pelo bem da Nação ou da Economia), com a benemérita ajuda dos ídolos do futebol e do jet-set colunável (os famigerados “famosos”) até que, nas eleições seguintes, vai (quando se dispõe a ir) direitinho à mesa de voto votar… nos mesmos de sempre (ah!, com a nuance de desta vez votar laranja se antes votou rosa ou vice-versa).

:: enviado por Manolo :: 8/07/2005 09:51:00 da tarde :: início ::
2 comentário(s):
  • A nuance do voto aplica-se à maioria, concordo. Por isso há que louvar as minorias (ou não?!). Eu sou minoria. Nunca votei nem rosa nem laranja. Com duas excepções desde que "me conheço" e "nasceu" o direito a votar (vou sempre): dois casos para "desempatar" a 2ª volta de eleições presidenciais.
    Um abraço

    De Anonymous Anónimo, em agosto 08, 2005 4:05 da tarde  
  • Infelizmente é isso:votam rosa e queixam-se,votam laranja e queixam-se também!!!
    Porque não votar noutra cor e dar força ao partido que faz a diferença?

    De Anonymous Anónimo, em agosto 08, 2005 8:51 da tarde  
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