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domingo, março 19, 2006

Emprego à dose

O Expresso revela este fim de semana que 51,7% dos portugueses dizem “nuclear sim, obrigado!”. O JSA referiu há dias, e bem, uma série de ameaças bastante pertinentes a ter em consideração sempre que se pensa na produção de energia atómica. Pela minha parte, gostaria, de vos falar de um outro perigo, menos conhecido, do nuclear.
Desconfio que grande parte dos portugueses que participaram neste “referendo” desconhece que a manutenção das centrais nucleares não se pode fazer sem intervenção humana. Essa intervenção é capital para garantir o bom funcionamento das centrais e prevenir possíveis acidentes nucleares. Nada de complicado. Trata-se simplesmente de verificar regularmente as condutas e as torneiras, os tubos, as cubas, as tampas. Muitas dessas operações são feitas mesmo no coração da central, onde a radioactividade contamina todas as estruturas e onde os riscos são crescentes devido ao envelhecimento das instalações.
Em França por exemplo, para salvaguardar na opinião pública a imagem do nuclear como energia limpa, as centrais nucleares criaram um sistema de gestão do chamado “emprego à dose”, que exclui os trabalhadores contratados logo que eles atingem um determinado limite de exposição às radiações ionizantes. Ou seja, a partir do momento em que um trabalhador ultrapassa a dose a que tem “direito”, deixa de poder entrar nas zonas contaminadas o que, para a maioria, significa ficar de baixa ou no desemprego total ou parcial.
É evidente que, há muito tempo que esses trabalhadores deixaram de fazer parte dos quadros das empresas que exploram as centrais nucleares e provêm agora de empresas subcontratadas, que empregam pessoal não qualificado e precário, vindo do exterior (normalmente dos países de Leste), verdadeiros “intermitentes do nuclear” que, por não terem a necessária experiência nem qualificação, estão muitas vezes na origem dos inúmeros incidentes recenseados nas centrais nucleares.
Como acontece com a problemática da co-incineração, em que muita gente se tem manifestado sem saber do que está a falar, seria bom que nos deixássemos, de uma vez por todas, de participar em “referendos” acerca de opções tecnológicas cujas consequências para a saúde e para o ambiente ignoramos.


:: enviado por JAM :: 3/19/2006 03:35:00 da tarde :: início ::
3 comentário(s):
  • Boa chamada de atenção. Realmente o problema humano é facilmente ignorado, na era da automação em que se julga que basta carregar em botões. É bom lembrar que ainda há quem tenha de fazer o trabalho braçal.

    De Blogger JSA, em março 20, 2006 11:43 da manhã  
  • Jam:

    Eu não ignoro os problemas inerentes ao uso do nuclear, infelizmente parace que à quem queira ignorar os problemas inerentes ao efeito de estufa.

    Eu sou favorável ao uso da energia nuclear, mas acho que é importante discutir os problemas que esta levanta, pois só assim estes podem ser minorados.

    De Anonymous Anónimo, em março 21, 2006 10:56 da manhã  
  • Mais uma vez, a música foi bem escolhida! Parece-me que basta ver o cuidado que as nossas "autoridades" têm com os sistemas de radiografias (também aí há uma tecnologia nuclear envolvida) para imaginarmos o cuidado que haverá com a dita central. Não há praticamente monitorização dos aparelhos de Rx das clínicas e hospitais do país.

    De Anonymous Anónimo, em março 21, 2006 9:37 da tarde  
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