domingo, março 19, 2006
A última ditadura europeia
Muito pouca gente poderá negar que as eleições de hoje vão ser uma fantochada. Para quem ainda tinha dúvidas, o actual presidente Alexander Lukashenko, o último ditador da Europa, encarregou-se de as desfazer ao ordenar a prisão de um dos seus opositores, o candidato social-democrata Alexander Kozulin, antigo reitor da Universidade de Estado e antigo ministro entre 1998 e 2001.Se fosse possível transformar estas eleições numa nova “revolução colorida” como as que têm eclodido noutras antigas repúblicas soviéticas, o preferido do Ocidente seria o candidato da oposição democrática unificada, o físico Alexander Milinkevitch. Há ainda um quarto candidato, próximo do actual regime, Sergueï Gaïdoukevitch, que é uma espécie de correia de transmissão bielorussa do partido da extrema direita russo de Vladimir Jirinovski.
Sexta-feira, na televisão, Lukashenko foi eloquente: Deus queira que os nossos opositores não tenham a ousadia de contestar os resultados eleitorais no Domingo. Torcer-lhes-íamos o pescoço imediatamente. Como quem torce o pescoço a um pato.
É indispensável que o Ocidente deixe extremamente claro, tanto para Lukashenko como para os seus apoiantes russos, que o mundo observa de perto o que se passa na Bielorrússia. Desta vez, até o conselheiro de segurança americano Stephen Hadley tem razão, quando diz que não tem havido suficiente indignação, nem suficiente atenção internacional em relação a Lukashenko. Quanto mais indignação houver agora, mais facilmente se evitará um banho de sangue mais tarde.
:: enviado por JAM :: 3/19/2006 01:17:00 da manhã ::
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5 comentário(s):
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JAM: se quiser eu traduzo-lhe a notícia de 3 de Março (isto é de há 16 dias) do New York Times que linkou. Ela começa logo por dizer que foram “Security officers” que o prenderam e que o libertaram “more than eight hours later”, isto é mesmo dia.De
E até explica a razão: ele (acompanhado de correligionários) forçou a entrada na sala onde se registavam os delegados do Congresso de apoiantes do actual presidente e foram barrados pela polícia… Aliás o próprio explicou que foi acusado de “disorderly conduct and hooliganism” e a própria notícia explica que Kazulin, “é menos conhecido que Milinkevich” mas que contudo tem emergido como um opositor mais confrontacional.
Quer dizer que essa insensata operação de show-off (para consumo interno e externo) é agora apresentado por si como a prova de que as eleições na Bielorrússia são uma fantochada?
Estou a imaginar o que se passaria se na Convenção das Novas Fronteiras (por exemplo) o líder do PSD ou do BE (acompanhado por matulões) entrasse de rompante por ali dentro a exigir que os registassem...porque exigiam intervir!
Lembro-me também que aqui há uns anos ouvi um ministro do PS a jurar que partia a espinha à Intersindical e não me lembro de ninguém do PS, ou do PSD ou do PP, a demarcarem-se, antes pelo contrário...
, em março 19, 2006 6:20 da tarde
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Margarida : Confesso que não a julgava russófila (neste caso bielorrussófila) a este ponto. Acho um pouco fracos os argumentos que usa para legitimar um acontecimento tão grave como a prisão de um candidato às eleições “livres”. É evidente que eu também li que foi “só” por oito horas, mas o significado intimidativo não é menor por isso.De
Teria aceitado melhor se me tivesse tentado convencer com os supermercados distribuidores de democracia americanos, como aquele a que nos referimos aqui, e que foram apanhados a colorir a revolução e postos na rua por Lukashenko... mas só isso é muito pouco para o transformar num democrata.
Em Portugal também haviam eleições livres antes do 25 de Abril. E também haviam candidatos agitadores e provocadores como Humberto Delgado, por exemplo, que o regime dignamente punha na ordem.
Vamos só esperar que Kozulin e/ou Milinkevitch não tenham o mesmo destino do nosso general sem medo.
JAM, em março 19, 2006 7:40 da tarde
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Olhe que o tal Kazulin é que é russófilo, segundo diz o NYT (Aligned more with Rússia (...) Kazulin has provoked confrontations during official events). Eu sou pró-portuga e defendo a não-ingerência nas questões internas dos outros países. Mas também defendo a cooperação com os povos de todo o mundo, a soberania e a independência nacional. E não sou ingénua. Esta cruzada contra a Bielorrússia não é nada inocente, o império lança mão a tudo para cercar a Rússia e há palhaços que se prestam a certas palhaçadas que até mesmo cá não seriam permitidas...De
Mas o supermercado a que se refere já é nosso velho conhecido e também já velho conhecido dos povos da ex-URSS, agora a novidade foram os 2,4 milhões de dólares da UE para a tal firma alemã tratar da rádio.
O que me choca no exemplo que você aponta no Delgado é o raciocínio que subjaz que por lá estão no fascismo, como estávamos por cá. Não acha tal presunção profundamente arrogante da sua parte? Eu acho e também um tanto tonta, desculpe-me a franqueza. , em março 19, 2006 8:31 da tarde
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Margarida : nem os 81,1% à boca das urnas lhe parecem exagerados ?De JAM, em março 19, 2006 10:00 da tarde
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Tão exagerado como outra que só lhe dava 40 e tal por cento. Apanhei esta num site que constava dum artigo no Le Monde. Também no Le Monde acabei de ler que "Les Etats-Unis, qui suivent attentivement le processus, ont reconnu avoir injecté 21 millions de dollars (près de 17,5 millions d'euros) pour soutenir la démocratie dans le pays"...isto é fora o que não reconheceram...De
E lembrar-me eu que por cá após o 25 de Abril quando constavam uns financiamentozinhos de 1 milhão daquelas bandas era uma escandaleira que ninguém admitia.
Mas a BBC também há minutos acabou por admitir que "the people power is not strong enough" e que as pessoas estão a abandonar a praça porque está muito frio...
O mais engraçado é que no tal site do artigo do Le Monde, os gajos estavam a dizer que não nevava nada que o governo estava era com canhões de neve...a imaginação delirante desta gente deixa-me sempre banzada. Se puder tente apanhar o tal site para se divertir um bocado. , em março 19, 2006 10:24 da tarde
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