BRITEIROS: A mais imoral das soluções <$BlogRSDUrl$>








sexta-feira, agosto 11, 2006

A mais imoral das soluções

Número de civis libaneses mortos : perto de 1200, dos quais 350 crianças. Número de civis israelitas mortos: 38, dos quais 40% são israelitas árabes ― só 20% da população de Israel é de origem árabe. Número de pessoas deslocadas: cerca de um milhão. Perto de 9.000 incursões dos caças-bombardeiros israelitas, mais de 3.000 foguetes lançados pelo Hezbollah. Centenas de estradas e pontes destruídas, dois biliões de dólares de prejuízos. E, para acabar esta série de números, só mais um: Número de resoluções até agora votadas pelas Nações Unidas para acabar com esta tragédia: zero.
Sejam quais forem as motivações políticas por detrás das suas declarações de anteontem, Jacques Chirac tem razão: esta inacção internacional é a mais imoral das soluções. Após um mês de conflito, a reacção da comunidade internacional é no mínimo de uma indignidade escandalosa.
Nesse contexto, sentindo-se livre para fazer o que muito bem lhe apetece, o governo israelita continua a bombardear por terra, mar e ar, o que não deixará de agravar ainda mais o balanço actual. Mais do que isso, Israel promete abrir a via a uma vasta ofensiva terrestre, que certamente se explica pelos fracos resultados até agora conseguidos, apesar das devastações. É que os foguetes continuam a cair e, no momento de prestar contas, os ministros vão ter necessidade de justificar tão pobres ganhos.
É evidente que os planos israelitas seriam inoperantes se não tivessem o beneplácito total dos Estados Unidos. Depois de ter proclamado a sua vontade de “democratizar” a região, George Bush decidiu expurgá-la de mais uma das suas componentes fundamentalistas. Com fogo, com sangue e ao preço de uma profunda injustiça.
Para isso, apoia-se no sentimento, bem real, partilhado por todos os israelitas, que tem a ver com a sobrevivência do seu Estado. Estamos longe de Gaza ou de Ramallah. Estamos bem mais perto de Teerão e de um presidente iraniano que não pára de afirmar que é preciso “apagar Israel do mapa”. Só que, para contrariar todos esses receios, acabou-se por apagar do mapa um outro país, o Líbano, onde cada habitante teme agora pela sua sobrevivência.
Não deixa de ser um enorme paradoxo: é precisamente nesse Líbano, recentemente desenvencilhado da presença síria, que a democratização estava em franca progressão, ao ponto de começar a arranhar a omnipresença do Hezbollah. E é esse mesmo Líbano que a comunidade internacional deixa hoje bombardear impunemente: A mais imoral das soluções.

:: enviado por JAM :: 8/11/2006 09:59:00 da manhã :: início ::
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