BRITEIROS: Eça é que é essa <$BlogRSDUrl$>








quarta-feira, outubro 18, 2006

Eça é que é essa

Fomos outrora o país do caldo da portaria, das procissões, da navalha e da taverna.(…) fizemos muitas revoluções para sair desta situação. Ficámos exactamente em condições idênticas. O caldo da portaria não acabou. Não é já como outrora uma multidão pitoresca de mendigos, beatos, ciganos, ladrões, caceteiros, carrascos, que o vai buscar alegremente ao meio-dia cantando o Bendito; é uma classe média inteira, que vive dele, de chapéu alto e paletó.
Este caldo é o Estado. A classe média vive do Estado. (…) O Estado é a esperança das famílias pobres, e das casas arruinadas, é a ocupação natural das mediocridades, é o usufruto da burguesia. (…)
A pobreza geral produz um aviltamento da dignidade. Todos vivem na dependência; nunca temos, por isso, a atitude da nossa consciência, temos a atitude do nosso interesse. (…) Extingue-se naturalmente no individuo a noção do justo e do injusto. Julga o favor, a protecção, a corrupção, coisas naturais e aceitáveis. (…) Lentamente o homem perde também a individualidade do pensamento. Não pensa por si: sobrevem-lhe a preguiça do cérebro. Não tendo de formar o carácter, porque lhe é inútil e teria a todo o momento de o vergar – não tendo de formar uma opinião porque lhe seria incómoda e teria a todo o momento de a calar – acostuma-se a viver sem carácter e sem opinião. Não se respeitando a si, não respeita os outros: mente, atraiçoa e habitua-se a medrar na intriga.(…
)” – “As farpas” – Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, Editora Principia, pgs, 29 a 31.
Já agora, a talhe de foice, respigo uma opinião de Vasco Pulido Valente, publicada no Diário de Noticias, aqui há umas semanas atrás: “A classe média não surgiu do sector privado, é uma classe média de serviços públicos. (…) As classes médias nunca vão legislar contra os seus interesses. Seria como pedir às putas que reformem o bordel.”

:: enviado por Manolo :: 10/18/2006 10:51:00 da tarde :: início ::
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