terça-feira, novembro 14, 2006
Diz qualquer coisa de esquerda, catano…
(You fool me once: shame on you;You fool me twice: shame on me!...)
Ainda haverá alguém que esteja no PS ou com o PS e que pense sinceramente que o PS é um partido de esquerda?
Apesar da opção (agora, ao que parece, militante) pela IVG, apesar da cínica invocação da “defesa do Estado social”, apesar da sempre repetida invocação do pluralismo dentro do partido, “a marca histórica e indelével do PS”, apesar das tiradas à Mário Soares (Almeida Santos dixit: “O mercado ameaça varrer o papel do Estado e criar uma Babel onde reina a anarquia”), apesar do “vigoroso aplauso” no final da intervenção de Manuel Alegre, o PS não é actualmente (se é que alguma vez foi) um partido de esquerda.
O PS, neste momento, está a ocupar à força toda o espaço político do PSD (que se está a ver à nora para fazer oposição a uma politica que, se estivesse no governo, seria a sua) e a invadir o próprio espaço do CDS (que, convenhamos, também já não tinha muito espaço após a saída de Portas). Não é que não seja necessário mexer, e mexer bastante, no estado-a-que-isto-chegou (e de que o PS, aliás, é um dos principais responsáveis), mas eles estão a mexer como a direita mais ou menos assumida mexeria se estivesse no lugar deles.
Pode ser coincidência (porque não?), mas não é com certeza irrelevante que o PS seja hoje constituído por cidadãos que se inscreveram depois de Guterres ascender a líder, após 1991. Dos cerca de 60.000 recenseados, 2/3 aderiram após esta data. E até já li, no site do PS, um texto datado de 2002 que, tendo esse facto em conta, achava “necessário promover uma renovação interna que permita a representação desses 2/3”, relegando para 2º plano o terço restante, o qual, em grande parte, ainda vem de 1974 e que sempre tem demonstrado “uma incapacidade real para conviver com os problemas actuais dos portugueses”. Provávelmente está-se agora a assistir a essa “renovação”, sob a batuta do todo-poderoso Sócrates (no regaço de quem ― não nos esqueçamos! ― caíu o poder após e por causa do intermezzo trágico-cómico daquele que agora "anda por aí"... a receber o vencimento de deputado sem deputar e a escrever livros ― este também). Portanto, Manuel Alegre, Helena Roseta e os outros (poucos) nomes conhecidos e todos os desconhecidos que ainda se acham socialistas (“socialistas democráticos” está bem, mas socialistas...) não passam de anacronismos dentro do partido e só lá são tolerados porque o partido precisa de mostrar, como se mostra uma jóia de familia ou um retrato dos antepassados, a sua suposta natureza pluralista.
:: enviado por Manolo :: 11/14/2006 10:20:00 da tarde :: início ::