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quinta-feira, novembro 09, 2006

Ventos de mudança

O perspicaz analista Charles Cook escrevia, meses antes de se conhecerem os resultados das eleições de Terça-feira: Parece inegável que um forte furacão arrasará os republicanos em Novembro. Se for de categoria 1, 2 ou 3, manterão o Senado e provavelmente a Câmara. Se for de categoria 4, a Câmara mudará de mãos e talvez também o Senado. Se o furacão for de categoria 5, as maiorias republicanas passarão à História. O furacão foi de categoria 5. Mais do que um furacão, foi um verdadeiro terramoto. Um severo castigo do eleitorado e dos fantasmas das vítimas do novo Vietname americano.
A chave da derrota republicana reside no facto de que os Estados Unidos nunca tiveram um plano definido e bem delineado para a ocupação do Iraque. Uma invasão que, não só não trouxe a prometida primavera democrática, como ainda transformou a região num viveiro de terroristas e desencadeou uma demente guerra civil, um foco de ódio, entre as etnias locais. Como dizia o aspirante à nomeação republicana no Nebraska, Chuck Hagel, estamos perante o Médio-Oriente mais instável desde 1948. O Irão tem hoje mais influência no Iraque que os Estados Unidos.
Bush-pai tinha compreendido, em plena Guerra do Golfo, que as nações árabes com ele coligadas (Arábia Saudita, Egipto, Síria) não queriam, nem por sombras, ver as tropas americanas a ocupar um país árabe. Temiam o contágio do vírus democrático às nações limítrofes, entre as quais, elas mesmas. Para além disso, não lhes agradava minimamente a ideia de ver a maioria xiita tomar o controlo do Iraque e montar um regime pró-iraniano.
Bush-pai tinha colocado estas perguntas: Quanto custaria ocupar o Iraque e manter-se nele? De quem disporia, com suficiente lealdade e força política, para encabeçar um governo do Iraque “democrático”? Que faria a maioria xiita assim que saltasse a tampa de Saddam Hussein? A estas perguntas de Bush-pai resolveu responder, dez anos mais tarde, Bush-filho (mais a sua pandilha Cheney e Rumsfeld) com excessivo optimismo e arrogância bélica. Foi esse optimismo que agora lhes enviou a factura (e com ela a demissão de Rumsfeld).
O Iraque vai ter que continuar a ser a prioridade máxima da Administração Bush, agora sob o controlo mais apertado da oposição democrata. Das duas uma: ou vai continuar aferrado ao discurso “não abandonaremos o Iraque enquanto eu for presidente”, ou flexibiliza o discurso e abre um diálogo com a Síria e com o Irão que permita, por um lado bloquear as vias da infiltração terrorista e, por outro lado, acelerar o ritmo da federalização do Iraque, que possa permitir uma convivência mais autónoma e pacífica entre xiitas, sunitas e curdos.

:: enviado por JAM :: 11/09/2006 10:54:00 da manhã :: início ::
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