quarta-feira, março 28, 2007
Ditador sim, salvador não!
Como não consegui comentar no lugar próprio o 1º comentário (anonymous said...) ao meu post de ontem, vai mesmo aqui:Ninguém pode negar que, depois do 25 de Abril, temos, todos nós portugueses, a possibilidade de falar mal do, criticar o, resistir ao, e escolher nas urnas o governo que nos (des)governa. Se governa contra os nossos interesses, temos todo um leque de possibilidades de o tentar mudar...sem com isso ir parar com os lombos à cadeia. Se não utilizamos as possibilidades que estão à nossa disposição, paciência - é porque assim estamos bem ou porque não nos apetece deixar a TV, o sofá e os chinelos ou porque achamos que alguém há-de fazer as coisas por nós, pensar por nós (talvez até viver por nós...). Mas que não se diga que era melhor comer (no caso concreto, passar fome) e ser obrigado a calar.
O próprio Briteiros não poderia existir no tempo de Salazar/Caetano.
:: enviado por Manolo :: 3/28/2007 10:41:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
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Nesta “votação” houve três aspectos:De , em março 29, 2007 9:28 da manhã
1. Houve protesto, sim, contra a situação que o país atravessa, contra esta classe política pós-25 de Abril, principalmente contra a classe política que afirma ser de esquerda para depois aplicar descaradamente políticas de direita que, muito provavelmente, nem o próprio Salazar teria tido a coragem de engendrar. Houve protesto também contra todo este enfeudamento face aos tecnocratas de Bruxelas que confundem crescimento com desinvestimento. Não esqueçamos que Salazar personificou a recusa desse tipo de enfeudamento a todo o preço. Mas atenção, não confundamos a Europa com Bruxelas.
2. Houve também um fenómeno muito parecido com o que levou, em 2002, 18 por cento dos eleitores franceses a votarem en Jean-Marie Le Pen. Aquilo a que os franceses quiseram chamar na altura um ras-le-bol total traduziu-se nas urnas por um voto provocatório. A maioria daqueles que agora elegeram Salazar fizeram-no igualmente mais por provocação ao poder actual do que por louvor ao poder salazarento do Estado Novo.
3. Finalmente, houve uma instrumentalização da direita e sobretudo da extrema direita portuguesa (que existe!!!) e que promoveu uma inflamação deliberada dos votos, transformando aquilo que à partida não passava de um simples concurso numa campanha. Acredito (diga-se de passagem) que os simpatizantes do PCP fizeram a mesma coisa em relação a Álvaro Cunhal.
Em todo o caso, não estou de acordo com os analistas que acham que aqueles que votaram em Salazar o fizeram por ignorância (análise que foi veiculada para os órgãos de informação internacionais, como por exemplo a France Inter). Recuso-me a crer que os portugueses sejam ignorantes a esse ponto.
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