quinta-feira, junho 21, 2007
A noite dos mortos vivos
Um dos filmes que marcou a minha juventude dava pelo título “A noite dos mortos vivos”. Embora não seja grande apreciador do género, é um excelente filme de terror. Original, curioso e bem feito.
A Constituição Europeia começa a assemelhar-se bastante ao enredo do filme (sem a originalidade). Por mais que pensemos que está morta, continua a ressuscitar e a caminhar na nossa direcção até nos engolir sem que possamos fazer qualquer coisa para o evitar.
Começa hoje à noite, em Bruxelas, a cimeira europeia que vai discutir a chamada versão “light” da Constituição. Como o discurso de transparência e abertura apenas serve para os discursos e as entrevistas televisivas, ninguém sabe muito bem o que se vai discutir. Pensa-se que a ideia é utilizar, mais uma vez, a técnica do esgotamento segundo a qual -após 36 horas de declarações inflamadas, murros na mesa e amuos vários – a fome, o cansaço, a sede e o sindroma conhecido por “tirem-me daqui!”, acabe por vencer os dirigentes europeus e os leve a assinar um documento qualquer. Para que a Europa avance, para mostrar que estamos unidos e para que não haja “fracassos”.
Do pouco que se vai sabendo sobre o que se pretende na versão reduzida da Constituição, parece que vão desaparecer as referências mais simbólicas - hino, bandeira, dia europeu e, obviamente, a palavra Constituição que agora passou a ser tabu – mantendo-se o essencial do texto com algumas modificações no peso relativo de cada país nas votações.
É esta alteração que tem motivado a troca de piropos entre os polacos e alguns países.
Se os polacos forem convencidos (provavelmente sob ameaça de cortes nos fundos estruturais) e os ingleses, checos e holandeses aceitarem algumas modificações cosméticas, teremos um Tratado sem símbolos federais e sem a palavra Constituição, que será aprovado pelos Parlamentos sem os aborrecimentos que os referendos podem causar.
Não vou repetir os argumentos contra esta Constituição Europeia e as razões que me levam a pensar tratar-se de uma má Constituição, Tratado, Compromisso ou que lhe quiserem chamar. No essencial nada se alterou. O que mudou, como diz Giscard d’Estaing no seu blog - e das poucas coisas em que estou de acordo com ele - “a opinião pública será levada a adoptar, sem o saber, as disposições que não temos a coragem de apresentar directamente”.
No “A Noite dos mortos vivos” os zombies só morriam definitivamente com um golpe na cabeça. Há que descobrir rapidamente onde está a cabeça desta Constituição Europeia.
Etiquetas: União Europeia
:: enviado por U18 Team :: 6/21/2007 10:07:00 da manhã :: início ::