segunda-feira, dezembro 10, 2007
Altermundialismo em Bali
Como já foi aqui exposto pelo JR, está a decorrer, até ao próximo dia 14, a 13ª Conferência da ONU sobre as alterações climáticas, um assunto cada vez mais desconfortável, tanto pela vulgarização das tragédias anunciadas, como pelos fortes interesses comerciais que mobiliza.Embora concorde globalmente com a análise feita pelo JR no referido artigo, não posso deixar de discordar veementemente quando ele afirma que tem “as mais sérias dúvidas de que a Humanidade possa controlar o clima”. Um exemplo de que esse controlo é possível tem-nos chegado da Rússia que, desde os artificialmente ensolarados Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1980, costuma usar aviões para espalhar produtos químicos que dispersam as nuvens e impedem a chuva. Para além de actos pontuais como este, parece-me igualmente irrefutável que acções globais, como a desflorestação a grande escala do planeta, tenham como inevitável consequência um impacto pernicioso sobre o seu clima.
Mas, voltando à conferência da ONU, queria destacar a polarização social que se gerou, particularmente à volta da Aldeia da solidariedade para um planeta sem aquecimento, organizada por uma ampla coligação de movimentos cívicos, à margem das reuniões oficiais: organismos como o Movimento Popular Indonésio contra o Neo-colonialismo e o Imperialismo, a Federação Indonésia dos Sindicatos Camponeses, organizações de direitos humanos, de pescadores, de grupos contra os acordos comerciais, Amigos da Terra, Focus on the Global South, ...
Segundo os organizadores, trata-se de “um espaço aberto para reunir todos os homens e mulheres, do Norte, Sul, Este e Oeste, que acreditam que o aquecimento global não pode ser abordado através de soluções de mercado nem neoliberais”. Este tipo de mobilizações bate-se contra as soluções alternativas dos industriais, que promovem, entre outros, os agro-combustíveis, os “desertos verdes” produzidos pelas monoculturas florestais, as grandes represas, a energia nuclear e outros arranjos tecnológicos que, longe de serem soluções, congregam novos problemas ambientais e sociais.
Porque é que os Estados Unidos, as companhias petrolíferas e a indústria automóvel, que desde há décadas vêm negando a existência de alterações climáticas globais, têm vindo a mudar de estratégia? Não é porque de repente se tenham dado conta da sua danosa participação na produção das causas do aquecimento global nem dos ganhos que isso lhes tem propiciado, mas sim porque descortinaram novas fontes de negócios que lhes permitem manter os seus privilégios de lucro e de contaminação.
Nesse sentido, destaca-se a agressiva promoção dos combustíveis agro-industriais à escala global, muitas vezes subsidiados com dinheiros públicos, para o lucro de grandes empresas. Só que, em vez de suavizarem o aquecimento global, vão empiorá-lo mais, porque implicam um aumento massivo das suas causas: mais agricultura industrial, mais consumo de petróleo para a maquinaria agrícola e os agro-químicos, mais desflorestação, mais erosão dos sistemas naturais, ...
Como se isso não bastasse, são também uma nova fonte de atropelos aos territórios e aos direitos dos camponeses que, em todo o mundo, são quem realmente provê a base da alimentação e o desenvolvimento sustentável dos agro-ecossistemas para a maioria da população mundial.
Etiquetas: Altermundialismo, Neoliberalismo
:: enviado por JAM :: 12/10/2007 12:00:00 da manhã :: início ::