terça-feira, dezembro 04, 2007
O bloco central
A existência de um bloco central na cena politica portuguesa é um facto indesmentível.Até já o professor Marcelo falou disso – quando disse que o grupo à volta de Luís Filipe Meneses fazia parte de um “bloco central de interesses”, expressão esta que, mais tarde, substituiu (vá lá saber-se porquê…) por outra mais politicamente correcta: “bloco central de interesses políticos”.
Também Pacheco Pereira fala/escreve sobre a existência desse bloco central, sublinhando, inclusive, que este está cada vez mais forte (cfr. revista Sábado de 8.11.2007).
O arquétipo do passado do bloco central foi a cena comovedora em que Almeida Santos, do PS, e Ângelo Correia, do PSD, no tempo do governo precisamente dito do Bloco Central, dividiram entre os dois partidos os lugares de gestores públicos.
Actualmente, com o PS a ocupar quase todo o espaço politico do PSD, dir-se-ia que o bloco central não existe, pelo menos formalmente.
Mas Luís Filipe Meneses (um dos senhores deputados associados ao caso das viagens-fantasmas do Parlamento, não esqueçamos!) já propôs ao PS “entendimentos alargados” em áreas como a regionalização, as leis eleitorais, a segurança interna e, the last but not the least, as grandes obras públicas…Isto, curiosamente, numa altura em que o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais afirma, no debate na especialidade do Orçamento de Estado/2008, que, ao contrário do que se pensa, as grandes empresas também cometem fraude(s) fiscal(is), e, logo a seguir, o presidente da CIP diz que a construção civil (das grandes obras…) é dos sectores mais fraudulentos.
Poderíamos também falar do pacto sobre a justiça, entre o PS e o PSD. E poderíamos (?) logo começar, a propósito, pelo caso Casa Pia (o caso Casa Pia I, depois o II…). Mas bastará lembrarmo-nos das recentes declarações do PGR, Pinto Monteiro, à Visão.
O PGR denuncia a ameaça do Governo de tornar os magistrados dependentes de tutela ministerial, denuncia as ameaças à autonomia do Ministério Público e denuncia a apressada entrada em vigor dos novos Códigos. Por causa destes, afirma, preto no branco, que, por ex., no caso da “Operação Furacão”, que envolve 400 sociedades, 2 milhões de documentos para analisar e 25 computadores para investigar, tudo corre o risco de “ir ao ar”, ou seja, que está, a partir de agora facilitada a vida (ainda mais, digo eu) aos criminosos “de colarinho branco”.
Só não vê quem não quer ver, só não ouve quem não quer ouvir. E, ainda assim, aposto, dobrado contra singelo, que, nas próximas eleições legislativas, os partidos mais votados vão ser …os dois partidos do bloco central.
:: enviado por Manolo :: 12/04/2007 10:31:00 da tarde :: início ::