terça-feira, dezembro 04, 2007
Ainda as eleições na Rússia
Fazendo fé nas versões dos observadores estrangeiros e nas oposições locais, as eleições legislativas de Domingo passado foram um claro exemplo de libertinagem antidemocrática.Por exemplo, Goran Lennmarker, presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE, assinalou que na Rússia não existe nenhuma separação real entre os poderes. Pelo contrário, disse que há uma fusão entre o Estado e as forças políticas, o que constitui uma violação inadmissível das normas internacionais. Destacou também que “os meios de comunicação não foram imparciais e deram clara preferência ao partido do governo, Rússia Unida”, liderado por Vladimir Putin. Outro observador europeu, Luc van den Brande, constatou que, no decurso do processo electoral, houve pressão sobre os eleitores para que votassem pelo partido governante.
No próprio dia das eleições, o dirigente do Partido Comunista, Guennadi Ziouganov, cuja organização obteve cerca de 12 por cento dos sufrágios, denunciou que teria havido uma torrente de infracções que superou todos os limites possíveis, e assegurou que lhes teriam sido subtraídos, por métodos fraudulentos, uma décima parte dos votos totais para favorecer outros partidos. Quanto ao antigo campeão mundial de Xadrez, Garry Kasparov, que milita num pequeno partido da oposição, qualificou estas eleições como as mais desonestas e as mais sujas da História moderna da Rússia.
O problema é que, desde há pelo menos quinze anos, quer a Europa Ocidental, quer os Estados Unidos, consideram a Rússia como uma democracia, numa lufa-lufa para vincularem esse enorme país ao mercado mundial (também têm feito a mesma coisa com a China, mas isso é ainda outra história). No meio de toda essa hipocrisia, resolveram elogiar o espírito democrático de Iéltsin e de Putin, não porque eles realmente o tenham, mas sim porque foram eles que converteram a Rússia num conjunto de oportunidades de negócio para os capitais multinacionais.
Agora, é muito difícil para esses mesmos europeus e americanos, convencerem-nos a todos nós de que estão verdadeiramente surpreendidos com a evidente sujeira que caracterizou estas eleições legislativas. Tanto mais que o actual governo dos Estados Unidos não conta com suficiente autoridade moral para reclamar eleições limpas e regulares no território russo, tendo em conta que tanto a eleição do actual presidente Bush, em 2000, como a sua reeleição, em 2004, ficaram marcadas pela suspeita de fraudes cometidas pelos republicanos, em detrimento da oposição democrata.
Etiquetas: Estados Unidos, Europa, Rússia
:: enviado por JAM :: 12/04/2007 04:00:00 da tarde :: início ::