terça-feira, julho 05, 2005
As cores do Não
Nada melhor do que uma boa polémica interna para animar um Blog (ou para acabar com ele ... mas, estejam descansados, não será o caso). A LGS escreveu este post. Fê-lo bem, disse o que pensava e tem todo o direito de o fazer. Só que ... só que parte de um enorme equívoco: votar “Não” à Constituição Europeia é votar pela extrema-direita.
Para rebater este argumento, bastaria lembrar que quando a Esquerda europeia andou pelas ruas a gritar contra a intervenção militar no Iraque, o Sr. LePen berrava contra o imperialismo americano, contra a intervenção militar e contra a injustiça que se estava a fazer ao seu amigo Saddam. Não me recordo que a Esquerda europeia se tivesse incomodado com a má companhia, assim como também não me recordo de que alguém os tenha acusado de serem de extrema-direita. Será que deve haver um critério em que a “companhia” dos extremistas não tem importância nos assuntos extra-europeus e passa a ser importante para os assuntos europeus? Não me parece.
Voltando ao caso da Constituição Europeia, e sendo eu contra esta Constituição, tenho a certeza que a ponte que me une ao Sr. LePen é tão longa como aquela que une a LGS ao austríaco Haider, também partidário do “Sim”.
As pessoas votam a favor ou contra a Constituição Europeia pelas mais variadas razões mas, sobretudo, pela convicção intima de em que medida a sua vida poderá ou não ser melhorada.
Num ponto concordo com a LGS: A Esquerda francesa que apelou ao “Não” não tem legitimidade para se apropriar desse “Não”. É tão ilegítimo o Sr. Fabius (de resto um personagem algo sinistro da política francesa - lembram-se do caso do sangue contaminado?) apropriar-se do voto, como o Sr Hollande afirmar que se votou apenas contra Chirac.
O “Não” que se ouviu em França e na Holanda é um “Não” contra dirigentes políticos, internos e, por consequência, europeus, que pensam que os cidadãos servem apenas para os legitimar no poder cada 4 ou 5 anos; contra uma UE que estagnou o crescimento, criou 20 milhões de desempregados e 50 milhões de pobres; contra uma UE que pensa que as vacas são mais importantes do que os seres humanos. Ninguém parece querer ouvir. Temo o pior.
A “ameaça” de guerra com que nos acenam é mais fácil de concretizar quando se obrigam povos a serem “integrados” do que quando os países divergem sentados a uma mesa de negociações. Há verdades “aborrecidas” mas que não deixam, por isso, de ser verdade: os últimos grandes “sonhadores” de uma Europa unida à força foram Napoleão e Hitler. Sabemos as consequências.
Claro que somos todos diferentes e que temos de encontrar compromissos para poder coabitar. Mas este principio tanto é válido para países como para pessoas. Obrigar alguém a viver com outro não me parece uma ideia muito salutar. A minha experiência pessoal mostrou-me que, basicamente, não há grandes diferenças entre um português e, por exemplo, um finlandês: todos queremos viver melhor, em paz e que o futuro dos nossos filhos seja melhor que o nosso (a grande diferença que encontrei é a de que os portugueses preferem conduzir como loucos nas estradas enquanto os finlandeses o preferem fazer nas pistas de automobilismo). O compromisso é fácil de alcançar desde que seja democraticamente discutido. Agora, não me obriguem a comer arenque fumado podre só porque os finlandeses gostam ...
A Constituição Europeia é apenas mais um exemplo daquela velha máxima “o que é bom não é original, o que é original não é bom”. A Constituição não nos “dá” mais direitos porque nada nem ninguém nos pode “dar” direitos. Nascemos com eles e é apenas a maneira como são respeitados que demonstra o estado de uma civilização.
A Constituição tem conceitos que são perigosos - como considerar o mercado como valor mais importante a defender - e tem ideias piedosas, mas igualmente perigosas - como o Ministro de Negócios Estrangeiros.
É tudo muito bonito mas os dirigentes europeus encarregam-se de demonstrar o contrário na primeira ocasião que se lhes depara: vejam as caneladas entre franceses, ingleses e espanhóis para ganharem a organização dos Jogos Olímpicos de 2012 e percebem o que quero dizer.
O “Não”, tal como o “Sim”, tem várias cores. Tem LePens, tem Arlettes, tem Monteiros e tem quem queira uma UE que respeite os cidadãos. Tenho a certeza que estes últimos são largamente maioritários .
A vida nem sempre é tão simples como gostaríamos. Olhem, por exemplo, para o Sr. Nigel Farage, líder do partido UKIP, partidário da saída da Inglaterra da UE e que lançou a moção de censura contra Durão Barroso. É, obviamente, contra a Constituição. O Sr. Farage é casado com uma alemã e, partindo do principio de que gosta da mulher, acham que é xenófobo ou que quer iniciar uma guerra para matar os sogros e os cunhados?
Colocaram-nos um texto à frente, sem alternativas, e perguntam-nos se estamos de acordo. Quando se tira uma fotografia a preto e branco, não se pode esperar encontrar várias cores, pois não?
Para rebater este argumento, bastaria lembrar que quando a Esquerda europeia andou pelas ruas a gritar contra a intervenção militar no Iraque, o Sr. LePen berrava contra o imperialismo americano, contra a intervenção militar e contra a injustiça que se estava a fazer ao seu amigo Saddam. Não me recordo que a Esquerda europeia se tivesse incomodado com a má companhia, assim como também não me recordo de que alguém os tenha acusado de serem de extrema-direita. Será que deve haver um critério em que a “companhia” dos extremistas não tem importância nos assuntos extra-europeus e passa a ser importante para os assuntos europeus? Não me parece.
Voltando ao caso da Constituição Europeia, e sendo eu contra esta Constituição, tenho a certeza que a ponte que me une ao Sr. LePen é tão longa como aquela que une a LGS ao austríaco Haider, também partidário do “Sim”.
As pessoas votam a favor ou contra a Constituição Europeia pelas mais variadas razões mas, sobretudo, pela convicção intima de em que medida a sua vida poderá ou não ser melhorada.
Num ponto concordo com a LGS: A Esquerda francesa que apelou ao “Não” não tem legitimidade para se apropriar desse “Não”. É tão ilegítimo o Sr. Fabius (de resto um personagem algo sinistro da política francesa - lembram-se do caso do sangue contaminado?) apropriar-se do voto, como o Sr Hollande afirmar que se votou apenas contra Chirac.
O “Não” que se ouviu em França e na Holanda é um “Não” contra dirigentes políticos, internos e, por consequência, europeus, que pensam que os cidadãos servem apenas para os legitimar no poder cada 4 ou 5 anos; contra uma UE que estagnou o crescimento, criou 20 milhões de desempregados e 50 milhões de pobres; contra uma UE que pensa que as vacas são mais importantes do que os seres humanos. Ninguém parece querer ouvir. Temo o pior.
A “ameaça” de guerra com que nos acenam é mais fácil de concretizar quando se obrigam povos a serem “integrados” do que quando os países divergem sentados a uma mesa de negociações. Há verdades “aborrecidas” mas que não deixam, por isso, de ser verdade: os últimos grandes “sonhadores” de uma Europa unida à força foram Napoleão e Hitler. Sabemos as consequências.
Claro que somos todos diferentes e que temos de encontrar compromissos para poder coabitar. Mas este principio tanto é válido para países como para pessoas. Obrigar alguém a viver com outro não me parece uma ideia muito salutar. A minha experiência pessoal mostrou-me que, basicamente, não há grandes diferenças entre um português e, por exemplo, um finlandês: todos queremos viver melhor, em paz e que o futuro dos nossos filhos seja melhor que o nosso (a grande diferença que encontrei é a de que os portugueses preferem conduzir como loucos nas estradas enquanto os finlandeses o preferem fazer nas pistas de automobilismo). O compromisso é fácil de alcançar desde que seja democraticamente discutido. Agora, não me obriguem a comer arenque fumado podre só porque os finlandeses gostam ...
A Constituição Europeia é apenas mais um exemplo daquela velha máxima “o que é bom não é original, o que é original não é bom”. A Constituição não nos “dá” mais direitos porque nada nem ninguém nos pode “dar” direitos. Nascemos com eles e é apenas a maneira como são respeitados que demonstra o estado de uma civilização.
A Constituição tem conceitos que são perigosos - como considerar o mercado como valor mais importante a defender - e tem ideias piedosas, mas igualmente perigosas - como o Ministro de Negócios Estrangeiros.
É tudo muito bonito mas os dirigentes europeus encarregam-se de demonstrar o contrário na primeira ocasião que se lhes depara: vejam as caneladas entre franceses, ingleses e espanhóis para ganharem a organização dos Jogos Olímpicos de 2012 e percebem o que quero dizer.
O “Não”, tal como o “Sim”, tem várias cores. Tem LePens, tem Arlettes, tem Monteiros e tem quem queira uma UE que respeite os cidadãos. Tenho a certeza que estes últimos são largamente maioritários .
A vida nem sempre é tão simples como gostaríamos. Olhem, por exemplo, para o Sr. Nigel Farage, líder do partido UKIP, partidário da saída da Inglaterra da UE e que lançou a moção de censura contra Durão Barroso. É, obviamente, contra a Constituição. O Sr. Farage é casado com uma alemã e, partindo do principio de que gosta da mulher, acham que é xenófobo ou que quer iniciar uma guerra para matar os sogros e os cunhados?
Colocaram-nos um texto à frente, sem alternativas, e perguntam-nos se estamos de acordo. Quando se tira uma fotografia a preto e branco, não se pode esperar encontrar várias cores, pois não?
:: enviado por U18 Team :: 7/05/2005 10:27:00 da tarde :: início ::