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domingo, julho 10, 2005

Repensar a agricultura europeia

Nestes tempos de europessimismo, é mais do que considerável a importância do voto dos Estados Membros da União Europeia, em finais de Junho, em que 22 dos 25 recusaram uma proposta da Comissão, relativa aos organismos geneticamente modificados (OGM). Tratava-se de saber se os Estados poderiam aplicar uma “cláusula de salvaguarda” que permitisse interditar a cultura de certos OGM no seu solo. Os ministros do ambiente confirmaram essa possibilidade, juntando-se assim à hostilidade dos cidadãos europeus em relação aos alimentos transgénicos. Essa decisão demonstra que, quando quer, a Europa é capaz de se harmonizar e, sendo importante do ponto de vista dos OGM e da política agrícola, é uma decisão prometedora quanto ao futuro da União.
As sondagens revelam que 54% dos europeus rejeitam os OGM completamente ou apenas em circunstâncias excepcionais e 31% só os aceitam se eles forem fortemente regulamentados e controlados. Essa hostilidade traduz-se pela guerrilha não violenta que os franceses sustentam contra os OGM e também pela hostilidade de vários governos europeus, incluindo os dos novos membros da União, que não manifestaram nenhum entusiasmo pelos OGM. No entanto, o governo francês é favorável, embora disfarçadamente, e os alemães adoptaram uma lei que rege a coexistência entre culturas transgénicas e não-transgénicas e as responsabilidades dos produtores de plantas OGM. Na Grã-Bretanha, Tony Blair (sempre ele!) é pró-OGM e já promoveu um debate público e experiências científicas independentes.
O voto de 24 de Junho só fará sentido se for pensado como um acto político positivo. O que implica considerar a questão, não de maneira isolada, mas no contexto da política agrícola. A agricultura do futuro passa pela manutenção de um campesinato que faça viver as especificidades regionais e as qualidades gustativas e ambientais dos produtos agrícolas. A Europa deve rever-se no Slow Food, movimento nascido em Itália, que promove a refeição lenta, saboreada com calma e baseada em alimentos tradicionais, em vez do fast food, simbolizado pelo McDonald’s.
Enquanto os OGM, concebidos por grandes multinacionais do agroalimentar, constituem um sistema técnico adaptado a uma agricultura extensiva, os consumidores e os agricultores europeus manifestam o desejo de um modelo radicalmente diferente. A Europa política começou a mudar um pouco as coisas com a reforma da PAC em 2003, ao abandonar o objectivo do aumento da produção e tomar em consideração o respeito pelo ambiente. Mas é preciso ir mais longe porque o problema agrícola mundial não é o aumento das quantidades dos produtos agrícolas, mas sim a conservação de comunidades campesinas viáveis que consigam escapar ao laço da pobreza.
Nesta perspectiva, a solução não passa por uma agricultura industrialista e pouco utilizadora de mão de obra, mas pelo contrário, pelo apoio aos pequenos agricultores, para limitar o êxodo para as grandes cidades, cada vez mais incontrolável, e pelo desenvolvimento de uma agronomia que se preocupe com a optimização dos rendimentos, a protecção dos solos frágeis, a produção de produtos em que cada região se distingue.
Vêem-se, por toda a Europa, figos insípidos vindos da Turquia, mas não se conseguem encontrar figos portugueses. Podemos dizer o mesmo dos ásperos e pálidos diospiros importados de Israel, com aspecto (e sabor) plastificado. E que dizer então das nossas sumarentas tângeras, tangerinas e romãs, que não se encontram para lá das fronteiras portuguesas?

:: enviado por JAM :: 7/10/2005 10:09:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
  • Quantos portugueses sabem o que são "organismos geneticamente modificados"? E alimentos transgénicos? Esperemos que, na sua loucura, essa sim transgénica, os débeis que nos governam não enveredem pelo referendo aos ditos cujos!!!
    Esperemos que não nos enfiem o barrete mais uma vez!!! Já nos bastou o débil barreto!!!

    De Anonymous Anónimo, em julho 11, 2005 10:07 da tarde  
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