BRITEIROS: As bombas de Teerão e Paris <$BlogRSDUrl$>








sexta-feira, janeiro 20, 2006

As bombas de Teerão e Paris


© desenho de Carlo Schneider

Não bastava o Irão com as suas desvairadas intenções de dispor a todo o custo da bomba nuclear. O Irão que, tal como Israel e a Turquia, não é um país árabe, mas é um país que logicamente tem tanto direito como os Estados Unidos, a Rússia, a França, a Grã-Bretanha, Israel, a China, o Paquistão ou a Índia de possuir armas atómicas de destruição maciça. É que, se até hoje só poderiam dispor de armas nucleares os países responsáveis, hoje em dia não é tarefa fácil indicar quem eles são.
Ontem (sem que se tenha percebido porquê) foi a vez do presidente francês, Jacques Chirac, surpreender o mundo inteiro ao afirmar que a França poderia responder com um ataque atómico contra os Estados que utilizem meios terroristas contra ela ou para garantir “a segurança dos nossos abastecimentos estratégicos e a defesa dos países aliados”. Ao fazer estas declarações, Chirac banalizou, também ele, irresponsavelmente o leque das possibilidades do uso das armas nucleares, dando assim uma machadada no tratado de não proliferação desse tipo de armamento. Numa altura em que o mundo inteiro procura dissuadir o Irão das suas intenções, o discurso de Chirac não faz mais do que encorajar Ahmadinejad a avançar com o seu projecto de bomba.
Enquanto o desarmamento não for absoluto e geral, vai sempre existir pelo menos uma tentação de recorrer a essa arma tão devastadora. A responsabilidade não é um valor inalterável. Aqueles que hoje nos podem parecer responsáveis, poderão amanhã deixar de o ser.
O drama é que o homem tem nas suas mãos um instrumento de destruição maciça. Não se trata de uma questão ideológica nem estratégica. Trata-se de uma realidade de que depende a vida de todos nós.

:: enviado por JAM :: 1/20/2006 10:49:00 da tarde :: início ::
6 comentário(s):
  • JAM: eu nunca ouvi de nenhum responsável do Irão dizer que quer a bomba nuclear. De quem é que ouviu isso?

    De Anonymous Anónimo, em janeiro 21, 2006 3:01 da tarde  
  • "recurso à arma nuclear como meio de dissuasão contra os dirigentes de Estados que utilizem meios terroristas..."
    Deve ser daquelas bombas atómicas cirúrgicas que destroem só dirigentes!

    De Anonymous Anónimo, em janeiro 22, 2006 1:41 da manhã  
  • Cara Margarida,

    De facto, não consta que Ahmadinejad, ou outro qualquer ayatollah, tenham alguma vez dito claramente ao mundo que pretendem construir uma bomba atómica. Mas, em tudo o que dizem e fazem, têm deixado evidente que é isso que querem. Desde o desejo manifestado pela concretização dos trabalhos de enriquecimento de urânio na cidade de Natanz, até à possibilidade confessa de riscar Israel do mapa, tudo indica que Teerão pretende possuir o domínio do nuclear, não só como projecto civil, mas também (e sobretudo) para possuir a Bomba. A bomba do prestígio, que tornou o vizinho Paquistão num país respeitado pela comunidade internacional, desde que a possui. Para além do Paquistão, também a Índia tem armas atómicas. Israel, o inimigo implacável do Irão, detém, segundo as estimativas, 200 bombas nucleares. Depois, a urgência do nuclear apenas para produzir energia, num país que é um dos principais produtores mundiais de petróleo, é no mínimo ridícula...
    Não sei há quanto tempo nos anda a ler, mas, se consultar os nossos arquivos, verá que, já em Maio do ano passado, nos tínhamos aqui referido ao fracasso da conferência da ONU, que pretendia redefinir o Tratado de Não Proliferação nuclear, e que não deu em nada, entre outros, porque o Irão exigia o reconhecimento do seu direito a utilizar a tecnologia nuclear. Para usos puramente pacíficos???

    De Blogger JAM, em janeiro 22, 2006 1:47 da manhã  
  • JAM: reafirmou portanto que nenhum responsável iraniano alguma vez referiu que queria a bomba nuclear. Também sei que tanto o Paquistão como a Ìndia têm bombas nucleares e desde o final da época de 80 sabemos que Israel tem pelo menos 200 - actualmente quantas serão?

    Também deve saber que para enriquecer o urânio o Irão acordou numa empresa mista com a Rússia e nesta altura, a discordância, é que os russos querem que a fábrica se situe na Rússia e o Irão entende que se deve situar no seu território.

    Quanto à guerra de palavras algumas serão verdadeiras, outras não o são. Precisamente há poucos dias o Irão expulsou a CNN por ter propositadamente distorcido uma declaração dos seus responsáveis, a CNN acabou por admitir que o tinha feito, pediu desculpa e o incidente foi sanado.

    Ainda ontem ouvi o ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul a dizer que não aceita o ponto de vista dos USA e dos europeus de que aceita que os “bons” (a África do Sul, por exemplo), possam ter fábricas para o enriquecimento do urânio, mas os “maus” (o Irão, por exemplo) não possam, porque, dizia ele, se assim fosse, a África do Sul ficava sujeita à subjectividade de quem atribui aos outros a bandade ou a maldade…

    E lembro-lhe que foram os USA, logo no início do mandato de G.W. Bush quem unilateralmente se pôs de fora do Tratado de Não proliferação, no que, obviamente foi seguido pela Rússia e agora pela França.

    Que esta é uma situação altamente preocupante, estou de acordo consigo. Mas que até à data o Irão não só cometeu nenhuma ilegalidade como nem proferiu nenhuma vontade de a cometer é uma realidade. E que todos os povos têm direito ao uso da energia atómica para fins pacíficos, consta dos próprios tratados internacionais, independentemente de terem ou não poços de petróleo no seu território. Parece é que uns tantos querem ter o monopólio desse avanço da ciência, para o imporem a outros a preços de monopolista.

    É que eu lembro-me que a África do Sul (no tempo do apartheid) também já teve a bomba, e na época não houve grande preocupação nem dos USA, UK, França ...eque foi o governo do ANC que desmantelou essa indústria. Que o Brasil também já teve essa indústria bastante desenvolvida, no tempo da ditadura militar, sem grande preocupação do "ocidente". Que ambos os países fazem o enriquecimento do urânio e que portanto não deixam que sejam os "grandes" a determinar quem pode ou não ter essa tecnologia. O Irão está na mesma lógica e é por isso, que ao contrário do que nos querem fazer crer o Irão não está tão isolado quanto isso, nem as coisas são exactamente como os USA, UK, França e Alemanha querem fazer crer.

    Além de que havendo já uns tantos países que de facto dispôem de armas nucleares é sempre bom lembrar que o único que de facto a utilizou, de forma criminosa e irresponsável, foi os USA contra duas cidades japonesas, quando de facto o Japão já tinha perdido a guerra e estava prestes a capitular...

    Às vezes passo por aqui, não me lembro quando descobri o seu blogue.

    De Anonymous Anónimo, em janeiro 22, 2006 9:12 da manhã  
  • Grande Margarida! Falta ainda acrescentar aí na lista dos que têm bomba atómica, o Presidente Português pois pode usá-la para dissolver a assembleia :)

    De Anonymous Anónimo, em janeiro 22, 2006 1:41 da tarde  
  • Lembrou muitíssimo bem, Alexandre. Por isso se ainda não votou, vá votar. O presidente depende só de nós, não das "sondagens".

    De Anonymous Anónimo, em janeiro 22, 2006 4:12 da tarde  
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