BRITEIROS: O fim do sonho da não-proliferação nuclear <$BlogRSDUrl$>








segunda-feira, outubro 09, 2006

O fim do sonho da não-proliferação nuclear

As autoridades da Coreia do Norte confirmaram hoje a realização de um ensaio nuclear. Por sua vez, os seis países empenhados na resolução da questão nuclear iraniana decidiram remeter o dossier para o Conselho de Segurança, onde poderão ser decididas sanções. Por enquanto, estas duas notícias que dominam a actualidade, não passam de uma convergência de duas crises. Mas o certo é que o mundo está a aproximar-se perigosamente de uma disseminação exponencial da arma atómica.
Mas, porque é que o mundo, já de si incontrolável, se está a tornar cada vez mais descontrolado?
A primeira razão é o fim da guerra-fria, que acabou com a bipolarização que impunha uma relativa disciplina, comandada pela relação de forças formada entre os dois campos. Hoje, não só se reanimam alguns dos velhos conflitos que a guerra-fria tinha congelado, mas também a multiplicação dos nacionalismos, antagonismos étnicos e frustrações históricas, sobretudo no mundo árabo-muçulmano, ocupam a actualidade sem que se vislumbre uma nova ordem internacional capaz de os canalizar.
A segunda razão é a lamacenta intervenção americana no Iraque, que fez perder aos Estados Unidos muita da sua capacidade de intervenção e, mais ainda, da sua credibilidade diplomática. A terceira razão é a dificuldade da Europa em afirmar-se como potência política e militar. Existe um vazio político na cena internacional e é nesse vazio que países como a Coreia do Norte e o Irão jogam as suas cartadas nucleares. O primeiro porque quer que o seu regime obsoleto sobreviva a todo o custo, e o segundo porque quer ser reconhecido pelo que já é ― a primeira potência do Médio-Oriente.
Mas, será que isso significa que esses dois países estão à beira de desencadear uma guerra nuclear? Não. Não é provável, pelas simples razões que nenhum dos dois possui o domínio da arma atómica e que nenhum dos dois possui verdadeiramente impulsos suicidários. Para ambos, a presente corrida para o nuclear não passa de um instrumento político.
Já, antes de a Coreia do Norte ter anunciado que iria efectuar um ensaio nuclear, o primeiro-ministro japonês não escondia a sua vontade de fazer do seu país uma potência nuclear. A partir de agora, está, mais do que nunca, determinado a concretizá-la. Isso poderia rapidamente levar a Coreia do Sul a querer juntar-se ao clube da Índia e do Paquistão. A Ásia, mãe de todas as rivalidades, poderia assim tornar-se em breve num barril de pólvora atómico. E o mesmo se passa no Médio-Oriente, onde a nuclearização do Irão não deixaria de se repercutir no Egipto, na Turquia e na Arábia Saudita.
A cena internacional transforma-se totalmente... para pior.

:: enviado por JAM :: 10/09/2006 12:21:00 da manhã :: início ::
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