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sexta-feira, novembro 17, 2006

Ségolène

A grande vencedora da investidura do candidato socialista às eleições presidenciais francesas de 2007 foi... a opinião popular. Ségolène, talvez não seja a melhor candidata socialista, mas é sem dúvida, no panorama de uma mais que provável confrontação com o ultra-liberal Nicolas Sarkozy, quem mais deu mostras de intuição estratégica coerente e determinada.
Madame Royal compreendeu, melhor que ninguém, que os militantes do PS não iriam designar, nesta Quinta-feira um, ou uma, presidente, mas sim um(a) candidato(a). Sendo assim, não se tratava de convencer, mas sim de agradar. Não se tratava de explicar, de expor, de detalhar, mas sim de evocar, de aflorar, de despertar um reflexo. Ségolène Royal soube jogar logicamente com os símbolos, as alusões, os sentimentos, e sobretudo sem usar os dossiers, nem as escolhas, nem os compromissos.
O facto de nunca se ter realmente imiscuído na vida interna do PS fê-la aparecer como uma alternativa fresca e nova, feminina e diferente. Ségolène soube demonstrar como é que se constrói uma popularidade invejável, na forma como preparou cuidadosamente as suas raras e breves intervenções televisivas, com laivos de cores vivas, por entre tonalidades masculinas esmorecidas. Ségolène não é o detalhe, porque o detalhe está no programa presidencial do PS, adoptado por todos e que, ainda por cima, de inovador, não tem nada. Nesse caso, porquê então colocar-se em embaraços quando lhe bastava proclamar “A minha opinião é a do povo francês” e patrocinar a realização de referendos de iniciativa popular?
É evidente que, num tal formato presidencial, a pena de morte nunca teria sido abolida, as reformas ingratas ficariam por fazer e imagina-se facilmente o resultado de uma consulta popular sobre a imigração, a justiça ou a segurança pública.
Vem ainda longe a segunda volta Royal-Sarkozy, mas prevê-se já que, na Republica Ségolèniana, o Chefe do Estado não se compromete, não explica, não esclarece, não abre o caminho. Limita-se a recolher a opinião popular do momento (e Deus sabe como ela varia), para depois a promover ou até sacralizar. Não vale a pena correr o risco das decisões impopulares, quando é suficiente atrelar o comboio presidencial à locomotiva da opinião.
O grande problema é que, por detrás de Ségolène e de Sarkozy, a velha raposa da extrema direita está à espreita.


:: enviado por JAM :: 11/17/2006 01:54:00 da manhã :: início ::
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